ANTHEM



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ANTHEM

Know your place in life
Is where you want to be
Don't let them tell you that
You owe it all to me
Keep on looking forward
No use in looking round
Hold your head above the crowd
And they won't bring you down

Anthem of the heart and anthem of the mind
A funeral dirge for eyes gone blind
We marvel after those who sought
New wonders in the world, wonders in the world,
Wonders in the world they wrought.

Live for yourself, there's no one else
More worth living for
Begging hands and bleeding hearts
Will only cry out for more

Well, I know they've always
Told you selfishness was wrong
Yet it was for me not you
I came to write this song
HINO

Saiba que seu lugar na vida
É onde você quer estar
Não deixe eles lhe dizerem que
Você deve tudo isso a mim
Continue olhando para frente
Não adianta olhar em volta
Mantenha sua cabeça acima da multidão
E eles não vão te derrubar

Hino do coração e hino da mente
Uma marcha fúnebre para olhos que ficaram cegos
Ficamos admirados atrás aqueles que buscaram
Novas maravilhas no mundo, maravilhas no mundo,
Maravilhas no mundo que eles forjaram.


Viva para si mesmo, não há mais ninguém
Por quem se valha viver
Mãos suplicantes e corações sangrentos
Só clamarão por mais

Bem, sei que eles sempre
Te disseram que o egoísmo era errado
No entanto foi para mim e não pra você
Que eu vim escrever essa canção


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson / Letra por Neil Peart


Viva por você e não se sinta culpado por isso

A poderosa "Anthem" abre Fly By Night, anunciando definitivamente uma nova era na música do Rush. A chegada de Neil Peart é evidenciada de forma imediata nessa primeira canção, que apresenta uma banda muito diferente da formação Lifeson, Lee e Rutsey do álbum de estreia. A partir de uma introdução rápida e robusta, encorpada por riffs avassaladores e letras que exaltam o individualismo, "Anthem" se revela como um verdadeiro marco na carreira do grupo: uma composição esculpida e polida com brilho fortemente reluzente.

A filosofia libertária que seria constante nas construções dos canadenses é retratada em um jogo enérgico e variado, com os jovens músicos mostrando que já dispunham de muita capacidade na construção de padrões diversificados e incrivelmente integrados. Os riffs elaborados por Alex Lifeson são intensos e colossais, e se afastam definitivamente dos seus admirados antepassados ​​do rock clássico que foram bastante visitados no álbum anterior. "Anthem" sintoniza perfeitamente o formato filosófico aliado aos vocais espirituosos de Geddy Lee, e a banda começava aqui o desenvolvimento de sua própria identidade.

As guitarras de abertura projetam sensações inovadoras, e as incríveis habilidades percussivas e literárias de Peart já são muito aparentes. Toda a banda trabalha de forma árdua e ousada para oferecer uma atmosfera pesadíssima e complexa, desviando por completo o eixo das composições dos primeiros anos. "Anthem" foi a primeira canção produzida após a chegada do baterista, estabelecendo uma espécie de acordo funcional predominante na banda - Geddy e Alex compondo a música e Neil escrevendo as letras. Além disso, ela figuraria vários traços de estilo, incluindo o uso de levadas assimétricas, separação contrapontística entre baixo e guitarra e preenchimentos percussivos muito elaborados. Por fim, a composição introduziria um dos temas mais marcantes abordados em canções da banda.

"Alex e eu fizemos esse riff na época que John ainda estava conosco, mas ele não conseguia tocar", lembra Geddy. "Era muito complicado e, definitivamente, esse não era o negócio dele - estava mais focado no rock & roll. Fizemos uma jam com o Neil no primeiro dia em que nos encontramos com essa abertura. Quando ele começou a tocar, olhamos um para o outro e dissemos, 'Yeah, esse é o cara. Ele pode tocar. Ele vai fazer'".

"Na primeira vez que tocamos juntos, a base da música "Anthem" foi uma das coisas que fizemos na maior parte do tempo, ficando evidente que ali nascia uma canção", afirma Peart.

"Anthem" traz elementos ideológicos da escritora, dramaturga, roteirista e filósofa russa naturalizada norte-americana Ayn Rand (1905 - 1982) e, apesar da utilização do título de um de seus romances mais importantes, a canção não é baseada na história em particular. Quando Peart passou a integrar o Rush assumindo a composição das letras, ele trouxe imediatamente seu interesse nas obras da escritora para o processo de escrita. Dessa forma, a linhagem randiana do objetivismo fica evidente em alguns momentos de Fly by Night, mais notavelmente em "Anthem", que afirma que o egoísmo nem sempre é errado e que devemos viver para nós mesmos, porque "não há mais ninguém por quem se valha viver". Para Rand, a demanda de sacrificamos nossos desejos pelas necessidades dos outros era uma forte receita para o desastre social. Tais observações se voltam particularmente para o âmbito econômico, onde homens e mulheres de habilidade e criatividade que, em sua opinião, são os motores do mundo, iriam encontrar-se subjugados aos menos capacitados. Esse tema é dominante em outro livro posterior escrito por Rand, Atlas Shrugged (A Revolta de Atlas), em que produtores capitalistas, juntamente com cientistas e os mais criativos artistas, entram em greve e decidem se retirar da sociedade. Tal atitude resulta o caos pois, sem a parcela mais produtiva, a economia e a ordem social entram em completo colapso. O ponto de observação de Rand era que, a menos que a sociedade definisse um código moral que reconhecesse que as pessoas deveriam ser livres para buscarem o lucro, inclusive aqueles que irão lidar com muita produtividade, seus integrantes nunca conseguiriam viver uma vida verdadeiramente humana.

"Tentávamos nos mostrar como verdadeiros indivíduos em 'Fly by Night', que foi o primeiro disco que Neil, Geddy e eu fizemos juntos", lembra Alex. "'Anthem' foi a assinatura do álbum. Inclusive o nome da nossa gravadora no Canadá, Anthem Records, veio dessa canção. Neil estava em um período de muitas leituras de Ayn Rand, então decidiu escrever essa letra sobre ser bastante individual. Achávamos que estávamos fazendo algo que era diferente de todos".

Na ética existencialista desenvolvida em "Anthem", Peart afirma a responsabilidade do indivíduo por sua própria felicidade, uma noção da liberdade de criar a si mesmo independente de constrangimentos sociais, históricos ou ideológicos. Há muitas injunções na canção como, "Viva para si mesmo" e "Mantenha sua cabeça acima da multidão" que reforçam a ideia de encontrar "seu lugar na vida", ou seja, seu nicho individual. "Anthem" rejeita profundamente a afirmação de crenças orientando o comportamento com base em convenções de terceiros, negando o altruísmo como um imperativo moral e insistindo que o indivíduo não deve, a priori, ser obrigado a pagar qualquer dever ou responsabilidade esvaziando-se de si mesmo, além de se abster da interferência na liberdade e no bem-estar dos outros.

A canção pode ser vista realmente como um hino à década de 1970, que ficou conhecida como a Me Decade (A Década do Eu), exortando os ouvintes a perseguirem seus próprios interesses e esquecerem o que os demais pensam. Com base nas ideias de The Virtue of Selfishness: A New Concept of Egoism (A Virtude do Egoísmo), uma coleção de ensaios publicados por Rand em 1964, a canção afirma que o indivíduo deve se apossar de própria sua vida. Na introdução, Rand reconheceu que o termo egoísmo não era normalmente utilizado para descrever um comportamento virtuoso, mas insistiu que seu uso na obra era consistente a partir de um significado mais preciso: "a preocupação com os interesses próprios de cada um".

A primeira versão da letra de "Anthem" trazia alguns trechos ligeiramente diferentes, não cantados no disco. A linha "Hold your head above the crowd" ("Mantenha sua cabeça acima da multidão") era anteriormente "Carry your head above the crowd" ("Leve sua cabeça acima da multidão"), e o refrão, à princípio, seria "Anthem of the heart and mind", gravado por fim como "Anthem of the heart and anthem of the mind".

"Anthem" traz a primeira de muitas representações honestas das crenças dos jovens canadenses, uma sinceridade que marcaria toda a carreira da banda. A canção, mesmo que controversa para muitos, exibe uma forte exaltação ao ser humano e a fé na capacidade individual. O autointeresse racional é retratado fortemente, soando emblemático na frase final, que aponta que a canção foi escrita para o letrista, e não para o ouvinte, definindo a grande personalidade da banda, que jamais faria concessões em torno das ideias que defendiam.

© 2014 Rush Fã-Clube Brasil

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