DRIVEN



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DRIVEN

Driven up and down in circles
Skidding down a road of black ice
Staring in and out storm windows
Driven to a fool's paradise

BUT IT'S MY TURN TO DRIVE

Driven to the margin of error
Driven to the edge of control
Driven to the margin of terror
Driven to the edge of a deep, dark hole


Driven day and night in circles
Spinning like a whirlwind of leaves
Stealing in and out back alleys
Driven to another den of thieves

BUT IT'S MY TURN TO DRIVE

Driven in - Driven to the edge
Driven out - On the thin end of the wedge
Driven off - By things I've never seen
Driven on - By the road to somewhere I've never been

IT'S MY TURN TO DRIVE

The road unwinds towards me
What was there is gone
The road unwinds before me
And I go riding on
CONDUZIDO

Conduzido para cima e para baixo em círculos
Derrapando em uma estrada de gelo negro
Olhando dentro e fora de janelas de tempestade
Conduzido a um paraíso de tolos

MAS É MINHA VEZ DE DIRIGIR

Conduzido à margem de erro
Conduzido ao limite do controle
Conduzido à margem do terror
Conduzido à beira de um buraco negro e profundo


Conduzido dia e noite em círculos
Girando como um redemoinho de folhas
Entrando e saindo de becos às escondidas
Conduzido a outro covil de ladrões

MAS É MINHA VEZ DE DIRIGIR

Impulsionado - Conduzido ao limite
Escorraçado - Na fina extremidade da cunha
Afugentado - Por coisas que nunca vi
Empurrado - Pela estrada para algum lugar em que nunca estive

MAS É MINHA VEZ DE DIRIGIR

A estrada se desenrola para mim
O que estava lá se foi
A estrada se desenrola diante de mim
E vou seguindo por ela


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson / Letra por Neil Peart


Você controla sua vida?

"Driven" é a segunda canção de Test For Echo, sendo o terceiro dos cinco singles lançados para o álbum. Atingiu a quinta posição no U.S. Mainstream Rock Chart em 1996. Foi a primeira composição a ser mixada no McClear-Pathe em Toronto, notória também por ter sido o primeiro trabalho do trio com o engenheiro norte-americano Andy Wallace (Nirvana, Rage Against The Machine, Faith No More). "Foi a primeira vez que trabalhamos com engenheiros norte-americanos", explica Geddy Lee. "Sempre trabalhamos com ingleses e alguns australianos - um monte deles da Commonwealth [risos] - mas, dessa vez, a decisão foi intencional. Queríamos estar com alguém que trouxesse uma abordagem sonora um pouco diferente, aquela que buscávamos para o disco: algo que soasse mais seco e à frente. Acho que a mixagem conseguiu isso. Não sabia o que esperar mas, por fim, foi um prazer trabalhar com Cliff Norrell [engenheiro de som] e Andy".

Explodindo em um dos riffs mais emblemáticos do disco, "Driven" desperta com a guitarra de Alex Lifeson soando como a ignição de um potente motor. Experimentando um contraste musical de ares automobilísticos (como "Red Barchetta" de Moving Pictures e "Dreamline" de Roll The Bones), o trio consegue uma melodia inicialmente suave que se desenvolve agressiva, o que sugere ao ouvinte a sensação de realmente se mover ao longo de uma estrada enquanto acelera cada vez mais. "Driven" é, de fato, uma boa representação de Test For Echo: obscuridade, propulsão, nunca complacente e sempre em movimento. "É uma canção bastante pesada - queríamos de fato trazer a sensação de alguém sendo conduzido em um veículo", explica Lifeson.

Apesar da guitarra destacada no início, "Driven" é completamente guiada pelo baixo, afinado em drop D. Um fato muito interessante é que Geddy experimenta pela primeira vez na carreira a gravação de multipistas em seu instrumento, chegando a trazer três linhas simultâneas.

"Driven é marcada pelo ponto de vista de um baixista", explica Geddy. "Compus essa canção com três linhas de baixo, levei-as para Alex e disse, 'Aí está. Fiz três linhas de baixo, mas só para simular as guitarras'. Ele disse, 'Vamos mantê-la assim'. Daí respondi, 'Te amo, cara'".

As tomadas vocais em "Driven" podem ser consideradas algumas das mais suaves em toda história do Rush - executadas aqui com regularidade ímpar. O instante da pausa que conduz ao refrão, por exemplo, no qual voz e violão são isolados, nos ajuda a assimilar a intenção central da canção - e de forma irrepreensível.

"Gosto muito das camadas acústicas", diz Geddy. "Foi bom para o Alex também, pois ele teve que sair para comprar violões novos [risos]. Ele realmente fez isso, testando alguns muito bons e trazendo-os. Foi algo no qual o encorajei, achei que renderia um som muito agradável. Mesmo mergulhados naquela agressividade, ainda temos os violões, estes que conseguem manter uma qualidade não-sintética e que funcionam como uma mudança de dinâmica. Gostei muito daquilo".

As aulas com o mestre Freddie Gruber frequentadas por Peart revelam seus belos efeitos em "Driven". É possível perceber um frescor percussivo que passeia por toda a composição, delineado por uma sensibilidade mais apurada nas novas explorações atípicas para os padrões do Rush.

"Neil recuou um pouco na bateria, o que trouxe um caráter ainda mais pesado para a canção", explica Alex. "Trabalhei um pouco mais nessa faixa, até conseguir o que queria. Geddy também precisou fazer os mesmos ajustes que eu, e tudo isso fez uma grande diferença".

"Driven" ainda reserva outros destaques. Em seu trecho central, somos brindados com um pequeno solo de baixo eclodindo como uma verdadeira aula de precisão. Subitamente, guitarras surgem em uma grande mistura de ritmos, referenciando o jazz, o metal e até mesmo o psicodelismo nessa breve sessão. Essa combinação concisa, idealizada por Lifeson, une novos experimentos com texturas similares àquelas criadas por ele na década de 1980, além de visitar a agressividade distorcida que integra seu álbum solo Victor, lançado poucos meses antes.

O trio produziu, ao lado diretor de arte Dale Heslip, um vídeo promocional muito interessante para "Driven". "Eu amo esse vídeo", diz Geddy. "Foi dirigido por Dale Heslip. (...) Muito steampunk. Dale teve a ideia de trabalhar nesse conceito. Foi gravado numa usina hidrelétrica abandonada em Toronto. Foi muito divertido de fazer. Ele é um diretor impressionante, bem peculiar e brilhante".

Liricamente descomplicada, a banda segue em "Driven" com a proposta de trazer temas mais emocionais, sombrios e relacionais. Utilizando inúmeras imagens que ajudam a compor a metáfora de um carro que segue por uma estrada, Peart pondera poeticamente sobre aspectos e consequências de uma vida de imprudência, apatia, influências, pressões negativas e incertezas. Novamente, como fez em inúmeros momentos na carreira com o Rush, o letrista olha com muito cuidado para o indivíduo e para a importância de sua afirmação.

No primeiro verso, Peart menciona a expressão black ice (gelo negro), referindo-se a uma camada de gelo vítreo que pode ocorrer sobre superfícies (geralmente estradas ou pontes) em climas suscetíveis ao fenômeno. Obviamente, o gelo não é verdadeiramente negro, mas sim virtualmente transparente, permitindo que o asfalto possa ser percebido através dele (sendo praticamente invisível para os motoristas). Por esta razão, torna-se um grande perigo devido a dificuldade de sua percepção, podendo ocasionar ao motorista uma súbita perda de controle ao volante. Temos aqui a primeira reflexão sobre a vida: em alguns momentos, é possível enxergar obstáculos e perigos, porém, por vezes, os problemas surgem repentinamente. Percalços podem surpreender a todo momento, acarretando graves derrapagens.

A expressão storm windows (janelas de tempestade) refere-se às janelas especiais projetadas para ajudar a manter a casa aquecida em temperaturas mais baixas. No desenrolar do verso, percebe-se que o personagem da canção continua seguindo em um veículo, observando a tempestade e as casas vão passando como um passageiro despreocupado que confia cegamente no motorista. Ele está ciente dos perigos, sabe que há gelo na pista (os possíveis contratempos à frente), mas permanece na condição de alguém que segue sendo conduzido ao paraíso dos tolos, termo que pode significar uma vida soterrada pela ignorância e indolência. Mesmo sabendo da possibilidade real de problemas e impasses, o personagem prefere acreditar que tudo continua maravilhoso.

Um pouco antes do refrão, surge pela primeira vez a frase "It's my turn to drive" ["É a minha vez de dirigir"]. O verbo é apresentado na voz passiva (driven - conduzido), o que deixa claro que o veículo é guiado por outra pessoa. A expressão margem de erro, termo relacionado à estatística e à medição, refere-se a um valor limite embutido no cálculo que prevê uma divergência de resultado. Nessa passagem, o personagem foi conduzido a um local muito perigoso, onde qualquer deslize pode ser fatal. No cenário, é possível entender que uma pequena falha poderá levá-lo, por exemplo, à beira de um penhasco profundo ("deep dark hole"), perigo agravado pela tempestade e pela pista escorregadia. Esse é o motivo da utilização do trocadilho perspicaz com "margin of terror" (margem do terror - termo muito utilizado em inglês e que se encaixa perfeitamente na rima e nas intenções do letrista).

No verso seguinte ao refrão, Peart mantém a metáfora de climas hostis quando menciona "spinning like a whirlwind of leaves" ["girando como um redemoinho de folhas"]. Em dias de ventania, é comum a ocorrência de folhas sendo levadas por todos os lugares, o que ocasiona, em alguns momentos, movimentos circulares das mesmas. O personagem continua sendo levado para locais incertos. Nesse trecho, surge o termo den of thieves (covil de ladrões), uma antiga expressão utilizada na Bíblia (mais precisamente no Novo Testamento), onde Jesus acusa vendilhões presentes no templo (Mateus 21:13: "E lhes disse: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vocês estão fazendo dela um covil de ladrões"). Esse elemento religioso figura as ilusões de negócios e atitudes desonestas. O personagem segue andando em círculos, sempre cometendo os mesmos erros e sempre atraído aos mesmos becos escuros (back alleys), que representam locais ou situações onde atividades escusas e nocivas ocorrem - muitas vezes, refletindo becos sem saída.

A ponte de "Driven" mostra que a jornada do personagem, assim como a própria vida, materializa-se como totalmente instável e imprevisível: às vezes nos impulsionando, às vezes nos escorraçando - às vezes nos afugentando e às vezes nos empurrando. Ele, enfim, pensa sobre a estrada à frente, esta que poderá levá-lo a algum lugar que jamais visitou. Continuará somente como o passageiro ou se tornará enfim o condutor de suas próprias decisões?

No verso final o personagem insiste na afirmação "É a minha vez de dirigir". Ele segue pela estrada obscura, esta que poderá lhe trazer a esperança de um dia assumir o controle. Porém, para isso, é necessário evitar os desvios perigosos, avaliando situações, encarando os problemas e deixando para trás muitos dos seus erros, negando com coragem e determinação elementos problemáticos e prisões que vão além das pessoas, como as pressões do mundo moderno, parâmetros sociais, status econômicos ou ideologias.

"...Você é confrontado quando está no limite... na verdade, trata-se de uma metáfora mais ampla que isso, certo?", diz Peart. "Quando as pessoas estão sob grande estresse, elas tendem a desmoronar e cometer erros. A graça sob pressão, e todo o conceito de ser um bom homem numa tempestade descreve exatamente isso: alguém que consegue manter a cabeça acima da água, apesar da pressão. Sim, isso é exatamente o que você é quando é conduzido ao limite. É de fato o teste, certo?".

"Driven fala sobre ambição"
, explica Geddy. "De certa forma, ela trata sobre a ambição imprudente e a necessidade, boa ou ruim, de estar no controle do seu destino".

© 2016 Rush Fã-Clube Brasil

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