LIMELIGHT



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YYZ  LIMELIGHT  THE CAMERA EYE


LIMELIGHT

Living on a lighted stage
Approaches the unreal
For those who think and feel
In touch with some reality
Beyond the gilded cage

Cast in this unlikely role,
Ill-equipped to act,
With insufficient tact,
One must put up barriers
To keep oneself intact

Living in the Limelight,
The universal dream
For those who wish to seem

Those who wish to be
Must put aside the alienation,
Get on with the fascination,
The real relation,
The underlying theme


Living in a fisheye lens,
Caught in the camera eye
I have no heart to lie,
I can't pretend a stranger
Is a long-awaited friend

All the world's indeed a stage,
And we are merely players,
Performers and portrayers,
Each another's audience
Outside the gilded cage
HOLOFOTES

Viver num palco iluminado
Aproxima o irreal
Para aqueles que pensam e se sentem
Em contato com alguma realidade
Para além da gaiola dourada

Escalado para esse papel duvidoso,
Despreparado para atuar,
Com tato insuficiente,
É preciso erguer barreiras
Para manter-se intacto

Viver sob os Holofotes,
O sonho universal
Para aqueles que desejam parecer

Aqueles que desejam ser
Devem colocar de lado a alienação,
Seguir em frente com o fascínio,
A relação real,
O tema fundamental


Viver numa lente olho de peixe,
Capturado pelo olho da câmera
Não me entusiasmo em mentir,
Não posso fingir que um estranho
É um amigo muito aguardado

O mundo todo é de fato um palco,
E nós meros atores,
Artistas e intérpretes,
Cada um o público do outro
Fora da gaiola dourada


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson / Letra por Neil Peart


Posicionamentos sinceros sobre os delírios e os transtornos da fama

"Limelight" é a quarta faixa de Moving Pictures. Como single, alcançou a 4ª posição na U.S. Billboard Top Tracks e a 55ª na U.S. Billboard Hot 100. A composição traz reflexões sinceras da banda sobre a fama, esta seria definitivamente alcançada com o disco. A partir de preciosos pensamentos, sentimentos, percepções e reações de Neil Peart, temos uma crítica à perpetuação dos mitos do entretenimento e sua visão pessoal sobre o sucesso e seus desdobramentos, o qual observa de maneira sensata negando os deslumbramentos e excessos que lhes são inerentes. Novamente, o Rush provoca um olhar centrado, uma fuga do lugar comum, além de explicar de coração aberto as dificuldades do baterista em arriscar sua privacidade.

Musicalmente, "Limelight" é outro exemplo explícito das novas direções que o Rush definitivamente assumia: canções rock mais concisas, acessíveis e cativantes, porém sempre munidas de letras trabalhadas com devoção e complexidades instrumentais impressionantes. Muito melódica, "Limelight" continua a perícia dos músicos em utilizar uma ampla reunião de elementos intrincados sendo entregues ao ouvinte sem barreiras - e de maneira impactante. Sua estrutura traz a sucinta contraposição entre versos, pontes e refrões, com todas as peças (guitarra, baixo, bateria, sintetizadores e vocais) envoltas por muita paixão e refinamento, o que fazer dessa, certamente, um dos maiores hinos da carreira da banda.

A interação quase sobrenatural entre os três integrantes fez com que Peart começasse a olhar de forma diferente para a banda. "Foi somente em 1980 que comecei a curtir nossa música como um fã", ele diz. "Temos muitas coisas que curto apenas pelo lado afetivo, por termos mostrado bravura, como o que aconteceu em Caress of Steel. Com Permanent Waves e principalmente Moving Pictures é que alcançamos um resultado de verdade - estávamos indo adiante e evoluindo. Era algo além de simplesmente criar longos temas - era preciso e apropriado saber ser mais conciso e objetivo, e isso mostrou que tínhamos aprendido com muitos erros do passado".

"Nosso plano inicial, que inclusive chegou a ser anunciado publicamente, era o de gravar nosso segundo disco ao vivo"
, revela o baterista. "Ao invés disso, resolvemos trabalhar em um novo álbum de estúdio. A razão disso é difícil de colocar no papel, já que foi algo instintivo. Posso garantir que estávamos muito otimistas, com nossas jams nas passagens de som sendo cada vez mais interessantes e agradáveis. Sacamos que o hiato causado pelo lançamento de um disco ao vivo não seria necessário naquele momento, pois é sempre mais oportuno e satisfatório embarcar na aventura de criar um novo álbum de estúdio".

"Limelight" é abrilhantada por um belíssimo solo de guitarra, que se tornou o preferido de Alex Lifeson. Ele foi feito em uma Fender Stratocaster equipada com Floyd Rose, a qual ele apelidou de Hentor Sportscaster. "Tive sorte no dia que gravei essa música, ainda é um mistério pra mim pensar sobre como surgiu o riff inicial. Já tínhamos uma boa parte dela mapeada, porém eu sabia que tinha que criar algo bem simples pra usar no começo. Utilizei uma Strato modificada, com um corpo mais denso e pesado. Montamos um set de amplificadores dentro e fora do estúdio, conseguindo um belo feedback do som ecoando nas montanhas. A abordagem nesse solo era deixá-lo rolar de maneira mais fluida possível. Ali estavam vários bends com várias repetições e muito reverb, com notas caindo enquanto outras iam surgindo. Passei um bom tempo trabalhando nessas camadas de efeitos, e esse se tornou um dos meus preferidos para reproduzir ao vivo. Existe algo bem triste e solitário nele, algo do seu próprio mundo. Esse solo reflete a natureza da letra - se sentir isolado dentro de todo aquele caos e adulação".

"Pretendíamos algo diferente, não queríamos um solo de guitarra comum em uma faixa tão fabulosa"
, explica o produtor Terry Brown. "Trabalhamos muito, e Alex teve algumas ideias fantásticas, as quais reunimos no solo que se ouve no disco".

"Nessa fase dos anos 70 até o Moving Pictures, estávamos nos tornando muito populares"
, lembra Lifeson. "Isso fazia com que passassem a exigir mais de nós. Acho que, em termos musicais, essa canção tem belíssimos altos e baixos. Ela é muito cinemática - é ligeira nos versos, o que creio que reflete o prazer com aquilo que fazemos, e as pontes e refrões são muito mais tristes. O solo, claro, é um dos meus preferidos, trazendo aquela qualidade inquietante e muito solitária, muito singular".

De certo modo autobiográfica, a letra de "Limelight" reflete nitidamente o desconforto de Neil Peart com o que ele julga ser os contras da fama. O trecho "In the limelight" ("sob os holofotes") denota o sentido de ser o centro das atenções; no teatro, um holofote geralmente é utilizado para iluminar a frente do palco, pondo o artista principal em destaque a partir de uma luz gerada em um cilindro, projetada por uma lente.

"Tínhamos atingido um novo grau de popularidade", explica Geddy. "Acho que Neil estava pouco à vontade com isso. Ele tentou lidar com isso em suas letras, explicando seu ponto de vista. Gosto do fato de que alguns dos nossos temas falam abertamente, nos fazendo pensar. Conhecemos tanta gente que só pensa em viver nos holofotes, viver o sonho universal e ser famoso, mas viver e sonhar são coisas diferentes. É isso que a canção diz, e acho que ela vale por isso - do ponto de vista universal e não apenas do Neil, ela debate sobre a fama. Neil tem dificuldade com os fãs, e não é nada pessoal. É algo próximo à timidez. Ele não consegue relaxar perto de estranhos como eu e Alex conseguimos. Ele não quer ferir os sentimentos de ninguém, não está tentando ser rude - só não se sente à vontade".

"Às vezes, tenho uma mudança de atitude sobre fazer letras em primeira pessoa, mudando para a terceira pessoa"
, diz Peart. "Por exemplo, 'Limelight' era um assunto delicado para tratar, especialmente para Geddy e Alex, a fim de que eles fossem capazes de simpatizar e ter empatia com a canção. Houve momentos em que tive que mudá-la a partir da primeira pessoa, dizendo, 'É preciso colocar barreiras para se manter intacto'. Considerando que minha intenção original era 'Eu preciso colocar...', Geddy sugeriu essa mudança de foco, e percebi que era o certo".

"Nunca fomos uma banda de grande publicidade, e temos conseguido manter bastante nossa privacidade"
, explica Alex. "Porém, tivemos que trabalhar para isso. Neil é um militante em torno da sua privacidade. O sucesso repentino pode realmente te mudar, o que te deixa preguiçoso por ter constantemente pessoas fazendo algo para você. Você perde a perspectiva do porquê está lá e o que realmente está fazendo. 'Limelight é sobre estar sob o escrutínio microscópico e a necessidade da privacidade - tentando separar os dois e nem sempre sendo bem sucedido no que faz".

"'Limelight' foi, provavelmente, a canção que mais expõe os sentimentos de Neil sobre ser o centro das atenções, sobre sua dificuldade em se confortar com a fama, com os caçadores de autógrafos, com a súbita falta de privacidade e as demandas repentinas no seu tempo"
, diz Geddy. "Ele estava tendo muita dificuldade para lidar com isso. Todos nós estávamos, mas acho que ele é o que tinha mais dificuldade dos três, no sentido de que é mais sensível do que eu e Alex. É difícil para ele lidar com as interrupções em seu espaço pessoal e com seu desejo de ficar sozinho. Sendo muito mais uma pessoa que precisa de solidão, ter alguém que vem constantemente até você para pedir seu autógrafo é uma interferência sem seu pequeno mundo. Suponho que, de certa forma, todos nós somos desajustados, pois escolhemos essa profissão que traz toda essa agitação extrema e este tipo de mundo auto-instigante no qual escolhemos viver, e nós não nos sentimos confortáveis neste tipo de papel".

"Essa canção trata das duas maneiras de se olhar para o sucesso"
, continua o baixista. "Por um lado, você pode encará-lo vivendo como se fosse um tipo de farsa, por outro, como algo que é bem real. Com certeza você terá que traçar a linha em algum lugar, tanto por se tornar uma propriedade pública quanto por ser uma pessoa privada".

Peart declarou em várias ocasiões que se sente pouco à vontade com seu estrelato e com o estardalhaço concomitante. Assim como Platão e sua caverna, o letrista propõe um passo fora da "gaiola dourada", deixando de lado a alienação e buscando as relações reais. Para o Rush, a fama falsifica relacionamentos - a franqueza sobre nossas fraquezas e divergências podem ser difíceis, mas são certamente mais louváveis do que o fato de sermos amados por quem não somos.

"Nos primeiros quatro ou cinco anos de estrada, se eu quisesse, poderia andar pelo hotel, caminhar pela cidade onde aconteceria o show e entrar pela porta de trás. Depois do show, sairia pela mesma porta e caminharia de volta para o hotel. Levantaria de manhã para trabalhar, e então, quando finalizasse, voltaria para casa como uma pessoa normal. Adoro isso, e agora adoro ainda mais por não ter mais. Me ressinto do fato de que não posso mais fazer essas coisas. É tudo por causa da irrealidade que penso que foi iniciada nos primeiros dias de Hollywood, onde criaram pessoas para serem semideuses. Em seguida, o rock pegou isso como marketing para tornar músicos maiores que a vida. É algo contra o qual tento lutar, sendo a única coisa que posso fazer, pois está tão arraigado na sociedade que de alguma forma artistas e celebridades parecem diferentes de todos os outros. É algo que detesto, eu realmente odeio isso. É totalmente não-natural, totalmente irreal, algo que faz com que todos fiquem desconfortáveis e alienados".

"A fama, para mim, é algo embaraçoso. Não é algo sobre o qual me coloco de forma arrogante - não sinto que as pessoas estão me incomodando. Mas, ao mesmo tempo, fico constrangido se estranhos caminham até a mim na rua como se me conhecessem. Eu só fico tenso e desconfortável. Eles não me conhecem. Isso me faz ficar na defensiva".

"Não sou recluso por temperamento, sou anti-publicidade por temperamento. Essa foi uma nova forma que encontrei para lidar com esse estilo de vida. Foi uma decisão difícil de tomar e mais difícil ainda de instituir. As pessoas nunca entendem a verdadeira razão de você não querer sua foto sendo tirada - eles acham que você é egocêntrico quando, na verdade, é completamente o oposto. 'Limelight' foi minha primeira tentativa em lidar com o problema. Tudo o que posso fazer é tentar o melhor que posso, sujeito à minha própria integridade. Tudo o que quero é ficar em paz para fazer meu trabalho. Adoro trabalhar, amo viajar, adoro tocar ao vivo e gravar discos, mas não gosto de ser famoso. É algo difícil de conciliar".

"Não é que eu não goste de ser entrevistado ou fotografado - eu não gosto é de ver a minha foto na impressão. Fiquei tão cansado dessa visibilidade que tive que fazer uma mudança, pois não posso lidar com isso pessoalmente. Quando as pessoas chegam a mim em um local público, não fico tão lisonjeado - me sinto envergonhado. As únicas formas com as quais poderia lidar com isso era abandonar a vida pública, o que não é possível, pois o que mais amo fazer é tocar e escrever canções, ou alterar a natureza da minha relação com o mundo em geral. Dessa forma, ainda poderia fazer o trabalho sem ser A Cara Famosa Numero Três".

"Lembro-me de dizer em voz alta um dia, 'Eu odeio ser famoso'. Esse foi o ponto crucial. SIM, você quer ser bem sucedido em qualquer profissão, como os arquitetos e médicos. Eles não têm milhares de pessoas perseguindo-os o tempo todo e com aqueles que não os conhecem correndo atrás deles nas ruas. Houve um ponto em que conseguirmos ser bem-sucedidos o suficiente para as gravadoras nos deixarem em paz, pois estávamos vendendo discos o bastante. Há um certo equilíbrio quando você alcança o momento em que todas essas coisas se tornam iguais, o que é maravilhoso. É um grande momento".

"Muitas pessoas se sentem desconfortáveis com a fama. Felizmente, quando estávamos no início abrindo para diferentes bandas, víamos as maneiras dos caras lidarem com isso. Existem duas maneiras básicas: evitar ou atuar. Víamos as bandas atuarem como em um papel. No fim dos shows, eles diziam, 'Nós adoramos vocês! Vocês são maravilhosos! Vocês nos acham maravilhosos? Nós achamos também'. Essa é a escolha com a qual temos que lidar sem enlouquecer. Tento me esconder disso, basicamente. Parei de permitir que minha foto fosse tirada, deixei de ser uma figura pública por não querer ser um rosto famoso. Passei a vida inteira aprendendo a tocar bateria e a amá-la. Ter mãos famosas OK, embora elas carreguem seu próprio conjunto de pressões e inseguranças. Mas ter um rosto famoso? Isso não é nada. Quer dizer, qual é a sua cara? Isso tudo não funciona por todo esse tempo por causa do meu ROSTO. Não penso em escrever canções para o bem do meu ROSTO. Não passei todos esses anos tocando bateria para ter um ROSTO famoso. Me ressinto de toda essa mentalidade".

"Levo uma vida tranquila em St. Catharines
(n. do t.: declaração de 1981). Sou casado, tenho uma filha de quatro anos de idade e tento ficar fora das coisas. Todd Rundgren disse algo uma vez que realmente bateu em mim: quanto mais popular você se torna, menos acessível você tem que se tornar. É a autodefesa. Foi isso que aconteceu comigo. Parei de ir aos lugares, gosto muito de ficar em casa. Consigo vida social o bastante quando estou na estrada".

"Certamente, me ampliei a partir do garoto que vivia numa fazenda, mas acho que não mudei minha natureza essencial. Ainda fico animado em desfrutar das mesmas coisas, e acho que entendo as coisas muito melhor agora. Trinta anos de experiência lhe dão uma maior compreensão, e acredito que não me tornei qualquer uma das coisas que essa situação pode fazer você se tornar. Foi um esforço consciente de nós três. Não queríamos nos tornar clichês no rock, mas também não queríamos nos tornar pessoas isoladas que se sentem totalmente alienadas da raça humana. É sobre isso que trata 'Limelight' - sobre a alienação que os fãs tentam forçar em nós. As pessoas nos forçam a nos proteger, nos obrigam a usar nomes falsos em hotéis, a ter seguranças para os manterem longe. Foi um verdadeiro choque para nós e foi algo difícil de lidar".

"O sucesso pressiona as amizades e põe amarras em nossas relações cotidianas, e isso é algo que experimentamos. Não somos imunes a isso, mas conseguimos superar esse fato através de nossa aproximação, nos ajudando nessas dificuldades e podendo assim lidar com pressões e coisas do tipo".

"As pessoas esperam e exigem muito de você, porque você não é mais humano. 'O que você quer dizer? Não se sente bem hoje?'. É tão frustrante... Talvez em oito ou dez noites você não se importe em conhecer pessoas ou conceder autógrafos. Mas, talvez em uma dessas, você não queira lidar com estranhos, não queira ver pessoas ou até mesmo não esteja se sentindo bem, estando mal fisicamente e só tocando porque é um profissional - só está lá para fazer seu trabalho. Ponto. Você acha que as pessoas entendem isso? Não. Se você sair dizendo, 'Não me sinto bem, por favor, me deixe sozinho', eles reagem, 'Oh uau. O Sr. Mandachuva. O Sr. Grande Estrela. Você é bom demais para lidar conosco'. Eu não entendo isso, não tenho essa alienação ao meu lado. Ainda tenho prazer em responder cartas às pessoas, pois é algo que posso fazer no MEU tempo, nos meus termos e posso me sentir bem com isso. Quando estou em casa, geralmente escrevo de 15 a 20 cartões postais, respondendo às mensagens encaminhadas à Modern Drummer. É algo positivo para ambos os lados - me sinto bem com isso e a pessoa que recebe também".

"Na Inglaterra, onde a vida é ainda mais estreita e circunscrita do que aqui, as pessoas não tem mais nada para viver além do seu grupo favorito - você não pode sequer abrir as cortinas do seu quarto de hotel, não pode andar fora do hotel. Não sonho mais em dar uma caminhada à tarde, pois haverá cerca de cinquenta pessoas me esperando lá fora. Se você abrir as cortinas, verá pessoas olhando te olhando - olhando descaradamente para sua vida. É esse tipo de coisa que me enfurece".

"Eu costumava ver o Who em Toronto, mas nem sonhava em ir aos bastidores ou segui-los até o hotel, quanto mais até a casa deles. Eu era o maior fã deles quando garoto, mas não sonhava em interferir na vida deles. É isso que eu não entendo. Essas atitudes me chocam, pessoas nos seguindo, pessoas aparecendo na minha casa. Eu não queria ser famoso, queria ser bom, e é muito diferente. Adoro ser apreciado, ser respeitado é excelente, mas qualquer coisa além disso me deixa apavorado. Qualquer ideia de adulação é muito errada. Quando as pessoas têm uma fantasia, não quero menosprezá-la, mas também não quero vivê-la. Podem achar que sou antissocial ou enjoado, mas não é verdade. Isso me deixa constrangido. Os outros caras ficam à vontade - eles conseguem fazer"
.

Neil diz que "Limelight" é uma de suas tentativas de capturar a experiência de um músico em turnê. "Eu havia tentado capturar esse paradigma desde o início, com as histórias de Wes Anderson [primeiras tentativas de escrita em torno da ficção que foram abandonadas] e, vez após vez desde então, mesmo em 'Limelight', nunca fiquei satisfeito. Eu pensava que se eu pudesse fazer com que as pessoas vissem como é, eles iriam entender tudo. Como a maioria delas, eu queria tanto ser compreendido!".

"Uma tentativa de esclarecer para mim e espero que para outros foi algo que aprendi: nunca reclamar, nunca explicar. Eu tento nunca reclamar, mas não posso ajudar senão explicar. Foi uma tentativa da minha parte de tentar me explicar como um introvertido, sentindo-me totalmente alienado com a 'gaiola dourada' e tudo isso, e tem sido notável ao longo do tempo o fato de que músicos jovens chegam a mim dizendo o que a música significa para eles, enquanto enfrentaram a mesma transição em suas vidas. É a lei da oferta e da demanda: quando se é um músico jovem, você é todo oferta e não há demanda e, em seguida, assim que você consegue um pouco de popularidade, há a demanda, mas a oferta é a mesma - há ainda apenas você, e é uma transição muito difícil de resistir".

"Penso nas palavras e nos significados por trás das canções quando estou no palco, especialmente quando as vejo refletidas no rosto de outras pessoas quando cantam junto. 'Limelight' é um exemplo óbvio e muito bom. Ela reflete muito em performances ao vivo, com 'viver no palco iluminado' e na sensação de irrealidade. Essa canção permanece verdadeira ao longo dos anos. 'Aproxima o irreal'. Sim, quantas vezes essas palavras refletem de volta para mim com o público cantando junto. É um ciclo de feedbacks da minha própria reflexão sobre essa experiência, e ela ainda é verdade, o que é bem legal"
.

A letra de "Limelight" utiliza de maneira certeira uma referência da peça teatral "As You Like It" ("Como Gostais", em português), do dramaturgo inglês William Shakespeare, provavelmente escrita em 1599. A obra contém, no Ato II - Cena VII, a frase "All the world's a stage and all the men and women merely players" ["O mundo inteiro é um palco e todos os homens e mulheres meros atores"], e a canção traz, "All the worlds indeed a stage, and we are merely players" ["O mundo inteiro é de fato um palco, e nós meros atores"]. Uma porção da frase já havia sido utilizada como titulo do primeiro álbum ao vivo da banda, All The World's a Stage, de 1976 - o que prova que essas preocupações sempre estiveram presentes com eles, mesmo nos primeiros anos.

"Limelight" é mais uma prova clara da sinceridade e honestidade do Rush, atributos que também podem ser considerados características marcantes dos seus trabalhos. A canção foi concebida como um prenúncio, pois foi escrita após Permanent Waves (1980), trabalho que havia lhes rendido a maior notoriedade na carreira até então - o que aumentaria e muito com Moving Pictures. Considerando de forma muito consciente o sucesso comercial, a fama e as exigências que chegam com o status de estrelas do rock, o trio não abre mão de tratar com muito cuidado o grande sucesso que alcançavam, defendendo, mesmo com a incompreensão de muitos, sua privacidade - da mesma forma que fizeram como artistas, negando concessões para a indústria da música. A partir dos posicionamentos pessoais de Peart, que refletem orgulho pelo reconhecimento como artista mas que se incomodam com a idolatria e adoração, o Rush aborda preocupações de serem transformados pela alienação, rendendo ainda bons conselhos para as variadas relações cotidianas. Formatando o tema para a terceira pessoa, o letrista abre suas preocupações, estas que seriam também assimiladas por Geddy e Alex, observando que a gaiola dourada da fama também oferece pontos negativos, pelo menos para aqueles que desejam se manter intactos.

© 2015 Rush Fã-Clube Brasil

TELLERIA, E. "Merely Players Tribute". Quarry Music Books, 2002.
MORSE, T. "Classic Rock Stories: The Stories Behind the Greatest Songs of All Time". St. Martin's Press. p. 104. 1998.
READBEARD. "Moving Pictures - In The Studio". 1988
BOSSO, J. "Vital Signs". Guitar World. July 2007.
SOUNDS. Neil Peart. March 14, 1981
FISH, Scott K. "Interview: Neil Peart". Modern Drummer Magazine. April 1984.
PARILLO, M. "Neil Peart: The Modern Drummer Interview". Modern Drummer Magazine. December 2011.