TEST FOR ECHO



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EVERYDAY GLORY  TEST FOR ECHO  DRIVEN


TEST FOR ECHO

Here we go - vertigo
Video vertigo
Test for echo

Here we go - in slo-mo
Video vertigo
Test for echo

Some kind of trouble on the sensory screen
Camera curves over caved-in cop cars
Bleacher-creatures, would-be desperados
Clutch at plausible deniability
Don't touch that dial -
We're in denial
Until the showcase trial on TV

Some kind of pictures on the sense o'clock news
Miles of yellow tape - silhouetted chalklines
Tough-talking hood boys

In pro-team logo knock-offs
Conform to uniforms of some corporate entity
Don't change that station
It's Gangster Nation
Now crime's in syndication on TV

What a show - vertigo
Video vertigo
Test for echo

Touch and go - in slo-mo
Video vertigo
Test for echo

Some kind of drama live on satellite
Hidden camera coverage from the crime scene to the courtroom
Nail-biting hood boys
In borrowed ties and jackets
Clutching at the straws of respectability
Can't do the time?
Don't do the crime
And wind up in the perp walk on TV
TESTE DE ECO

Lá vamos nós - vertigem
Vídeo vertigem
Teste de eco

Lá vamos nós - em câmera lenta
Vídeo vertigem
Teste de eco

Algum tipo de problema na tela sensorial
A câmera se curva sobre carros de polícia arranhados
Criaturas de arquibancadas, supostamente desesperadas
Se agarram na negabilidade plausível
Não toque no dial -
Estaremos em negação
Até o show dos julgamentos na TV

Algumas imagens na proposta do noticiário
Milhas de fita amarela - silhuetas feitas de giz
Garotos durões de capuz

Vestindo logotipos falsificados de equipes profissionais
Em conformidade com os uniformes de alguma entidade corporativa
Não troque de estação
É a Nação Gangster
Agora o crime está sindicalizado na TV

Mas que show - vertigem
Vídeo vertigem
Teste de eco

Incógnita - em câmera lenta
Vídeo vertigem
Teste de eco

Algum tipo de drama ao vivo via-satélite
Câmera escondida cobrindo desde a cena do crime ao tribunal
Garotos durões roendo unhas
Em gravatas e jaquetas emprestadas
Se agarrando à ninharias de respeitabilidade
Não pode cumprir a pena?
Não cometa o crime
Acabando no show dos acusados na TV


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson / Letra por Neil Peart e Pye Dubois


A influência nociva dos artifícios da mídia e a necessidade de afirmação

"Test For Echo" é a faixa de abertura do álbum homônimo: uma peça robusta provida de ares enigmáticos, que oferece como primeiro impacto a consolidação do essencial já recobrado pela banda no anterior Counterparts. Lançada como o primeiro single em 6 de setembro de 1996, alcançou o topo da US Mainstream Rock da Billboard quatro dias depois. Mesmo com seu instrumental enxuto, o trio não abandona suas características vitais. Test For Echo, portanto, traça uma linha entre o clássico e o moderno, apresentando um Rush ainda mais renovado e dinâmico que continua a perseguir ferozmente sua própria reinvenção.

Partindo de nuances iniciais misteriosas e instigantes, somos convidados nos primeiros instantes a flutuar com os clássicos arpejos lifesonianos, combinados à condução sutil e eficaz de Neil Peart. O pano de fundo para a introdução é caracterizado por uma fina camada de sintetizadores, surgindo como a chave que auxilia a entrada vocal de Geddy Lee - esta que, suavemente, nos conduz em mais uma intrincada viagem musical. "Here we go".

"Test For Echo" explode em um aglomerado de ritmos que se encaixam perfeitamente: tambores por todos os lados, guitarra distorcida bastante evidente e uma nova técnica metódica no baixo já experimentada por Geddy no álbum anterior - porém aqui soando ainda mais aprimorada e precisa. As guitarras se mostram duríssimas e, de maneira peculiar, afinadas em drop D (atributo que passeia por quase todo o álbum e seria uma das sutilezas responsáveis por seu peso característico).

"Gosto do fato dessa canção trazer uma melodia agradável envolvida por um pouco de confusão e natureza maníaca", explica Lee.

"Test For Echo" é conduzida por uma incrível dramatização vocal que leva o ouvinte a vislumbrar todo o alvoroço de imagens sugeridas nos versos. O clímax, portanto, desponta no solo, com Alex oferecendo uma paisagem musical maravilhosa, alternando entre a claridade e a escuridão, entre o leve e o pesado - mágica que faz como ninguém - onde é possível traçar pequenas referências ao seu aclamado trabalho em "La Villa Strangiato" (do clássico Hemispheres, de 1978), quando começou a experimentar tais contrastes.

Liricamente, "Test For Echo", que observa tipos de comunicação global (um dos assuntos primordiais do disco), constitui-se em mais uma ótima colaboração entre Neil Peart e o letrista e poeta canadense Pye Dubois, repetindo a parceria que deu vida aos temas anteriores "Between Sun & Moon", de Counterparts (1993), "Force Ten", de Hold Your Fire (1987) e a clássica "Tom Sawyer", de Moving Pictures (1981). A investida em "Test For Echo" dedica-se à observações que partem de três ângulos distintos, mas que se entrelaçam e que elevam outra grande criação do power-trio canadense.

Primeiramente, "Test For Echo" soa autobiográfica, como uma pintura do momento de expectativa que o Rush vivia no retorno de seu até então mais longo hiato entre gravações. Após o término da turnê Counterparts, em 07 de maio de 1994, os canadenses optaram por se dedicar a outros projetos fora da vivência da banda, que já contava naquele momento com vinte exaustivos anos de inúmeras apresentações em várias partes do mundo, quinze gravações de estúdio e outras três ao vivo. Geddy decidiu dedicar mais atenção à família, sendo pai novamente no ano seguinte e ficando afastado da vida musical por 18 meses. Alex se debruçou em seu primeiro trabalho solo, o álbum Victor (gravado entre 1994 e 1995 e lançado em 1996) e Neil, em uma atitude no mínimo surpreendente, tornou-se amigo e aluno do instrutor de jazz Freddie Gruber (1927 - 2011), decidindo renovar e reinventar seu estilo, incorporando componentes do swing e do próprio jazz em suas idolatradas performances.

"Somos famosos por letras que carregam muito peso", explica Geddy, "sempre buscamos escrever temas importantes para os ouvintes. Dessa forma, hoje somos obrigados a compor letras que não sejam inferiores à música em si. Isso sobressai em 'Test For Echo', que se mostra interessante para refletir com precisão sobre a situação do grupo. Apesar do fato do Rush já estar na estrada há mais de vinte anos, quando nos reunimos após o hiato para fazer nosso novo álbum, não tínhamos certeza de que alguém ainda ouvia nossa música, e se o que fizemos no passado ainda significava alguma coisa. Assim, a canção soa como um tipo de pergunta: 'Há alguém aí fora?'. A letra também permite certa compreensão do quão estranho o mundo se tornou para todos nós da banda".

"Sempre gostei das canções agressivas"
, continua o baixista. "Alguns dos nossos discos anteriores são muito agressivos, e entendo que não podemos perder essa característica. Há um elemento no Rush que está sempre em estado de agitação, entre o mais pesado e o mais melódico, havendo sempre um equilíbrio entre os dois. Às vezes, temos compromissos com um ou com outro, mas realmente gostamos dessa sensação agressiva".

Para Alex, "'Test for Echo' é o puro Rush, pois a canção traz todas as nossas características: se movimenta de maneira dinâmica, mostra alguns trechos peculiares e, falando de mim, ofereço muitos arpejos e acordes bem amplos e pesados".

"Sempre olho para essa banda como um trabalho em andamento"
, afirma Geddy. "É por isso que mergulhar em um novo projeto é algo tão excitante para nós, pois nunca sabemos no que vai dar. Queremos continuar a nos desafiar como experimentos e também nos mostrar ligeiramente diferentes em cada investida, continuando a evolução".

"Há uma sensação especial com esse álbum que acho que nunca tivemos antes, uma boa caminhada e várias boas canções do Rush. Sinto como se estivéssemos todos muito juntos aqui. Embora nos esforcemos o tempo todo para isso, nem sempre é possível. O clima no estúdio foi ótimo, estávamos realmente unidos nessa direção".


Acompanhando a tendência gradativa dos trabalhos imediatamente anteriores, o Rush recorre ainda menos aos teclados em Test For Echo, utilizando leves camadas que conseguem alentar a energia de uma banda que soa, mais do que nunca, como um trio munido de altas doses de incrível musicalidade. Não existe aqui a necessidade de se preencher todos os espaços vazios com licks de guitarra, riffs de baixo e bateria inumana, elementos que inauguram singularidades que fazem desse disco uma peça incrivelmente especial em toda discografia do trio.

"Gosto de ser visto como progressivo", explica Lee, "mesmo que este seja um termo jurássico. É a única definição que parece fazer sentido para mim, pois não gosto de soar datado. Não estou interessado em ser nostálgico ou em visitar o passado, não quero ser apreciado somente por algo que fiz há quinze, vinte anos. Gosto de pensar que ainda tentamos ser parte do que está acontecendo".

Após a definição da canção como uma espécie de situar histórico que relaciona o próprio trabalho da banda, "Test For Echo" ainda traz, de forma tipicamente complexa, dois significados mais abrangentes: a natureza humana e seu apanágio da autoafirmação ao lado de uma crítica à mídia e a exposição doentia de dramas sociais como mercadorias, com os quais os meios de comunicação buscam comoção e captação da atenção de milhares de telespectadores a partir das mais variadas desgraças do cotidiano (tema próximo ao explorado na canção "Superconductor", do álbum Presto, de 1989).

"Essa canção fala sobre o processo anestesiante que acontece quando somos expostos a grandes tragédias e, em seguida, quando nos entregam momentos de alegria", explica Lee. "Sinto que essa é a condição do homem contemporâneo: quando lemos o jornal ou assistimos TV, não temos certeza se devemos rir ou chorar reagindo aos fatos".

"Trata-se de uma visão do que acontece em nossa cultura através dos olhos instantâneos da mídia, e sobre as coisas que vemos que não consideramos certas"
, continua o baixista. "E tudo segue acontecendo, sendo explorado. Trata-se de uma mídia fora de controle".

"Bem, 'Test For Echo' para mim é um tipo de pastiche
[N. do A.: obra literária ou artística em que se imita abertamente o estilo de outros escritores, pintores, músicos, etc.], uma montagem da vida contemporânea", explica Peart. "A vida contemporânea mais comum que assistimos é aquela transmitida através das nossas TVs e computadores. Infelizmente, essa é a maneira com a qual obtemos nossas informações, a forma com que a maioria no mundo obtém seus retratos da vida. Todo esse processo levanta a questão, 'Será que alguém acha isso normal? É normal ser bombardeado com imagens violentíssimas seguidas de comédias fúteis, e assim por diante?'. Você fica sem saber se deve rir ou chorar com isso ou com aquilo. Acho que a sensação real dessa canção é, 'Será que mais alguém por aí também acha isso estranho?'".

"O comentário não declarado na canção 'Test For Echo' é, 'Alguém mais acha isso estranho?'. Praticamente, era assim que me sentia sobre o fascínio do mundo com a alegação dos homicídios de O.J. Simpson. 'O show dos julgamentos na TV' é apenas uma parte de todas essas coisas estranhas que são escolhidas para o nosso entretenimento".

"Queremos fingir que somos forçados a assistir a todos os programas de TV com as maiores audiências, os desperdiçadores de tempo durante o dia e também à noite. Mesmo assim, a canção não é para ser esnobe sobre a TV, de modo algum. Há certamente algumas coisas boas na caixa (como na Internet) mas, alguém também reparou que as coisas boas tendem a não ser muito populares? Alguém mais acha isso estranho?".

"Existe uma série de temas sendo abordados nesse álbum, e nenhuma canção é sobre um único assunto com o qual estou preocupado. Tento tramar a maioria das coisas como uma cesta que pode ser carregada. Nessa canção, na pequena parte destinada à vida, pensei sobre o tema geral da afirmação, algo que entendo como importante para todos. Trata-se de uma busca pelo eco: quando você diz 'Olá', você quer que alguém também diga 'Olá' - tão simples quanto isso. Test For Echo em si olha para o mundo e pensa, 'Isso é estranho, será que ninguém mais pensa assim?'. Esses tipos de sentimento estão em jogo o tempo todo".

"Nunca quis trazer um álbum com um grande tema, mas, uma vez que minhas letras refletem meu pensamento durante um determinado período de tempo, alguns temas comuns emergem. Em Test For Echo, o tema da afirmação - quando gritamos querendo ouvir uma resposta para saber se há mais alguém no mundo que se sente da mesma forma - aparece em algumas músicas diferentes".

"A letra da canção mostra uma visão em vídeo desse nosso mundo louco, oferecendo uma pergunta tácita: 'Desculpe, mas será que mais ninguém acha isso estranho? Eu sou estranho?'. Enquanto essa resposta talvez seja 'Sim!', é bom saber que você não é o único, que não está sozinho".

"Na verdade o tema da canção diz tudo. Surgem as perguntas: 'Tem alguém aí? Tem mais alguém vendo essa merda toda que está acontecendo? Olá?'. É um tipo de reação que gosto bastante. Não digo isso apenas no contexto da tecnologia, mas no contexto das coisas que acontecem conosco, como a porra desse bombardeio de informações. Será que mais alguém percebe o que está acontecendo? Às vezes nos sentimos tão distantes e desconectados que temos que fundamentar a nós mesmos... daí, fazemos esse teste de eco. Essa frase é apenas algo que é muito comum em nossos dias".


Com outro trabalho magnífico do artista gráfico Hugh Syme, a capa e o encarte de Test For Echo se mostram diretamente conectados à proposta temática da faixa-título: antenas parabólicas (que representam as transmissões da mídia já comentadas e a tentativa de captação de um sinal longínquo), a imagem de um lobo uivante (é sabido que o uivo significa um brado de reagrupamento da matilha ou um sinal de localização) e um totem Inukashuk (também conhecido como Inukshuk), composto por rochas fincadas em uma paisagem gélida e deserta, característico da cultura inuíte. Os inuítes fazem parte da nação indígena esquimó característica das regiões árticas do Canadá, do Alasca e da Groenlândia, e um de seus traços mais marcantes é o fato de que seus antepassados tinham por costume empilhar rochas dispondo-as de maneira próxima à representação da forma humana, surgindo como imponentes totens que se tornaram significativos marcos históricos dessas regiões. Tais monumentos eram utilizados no passado para fins de sinalização, demarcação dos pontos mais altos do território ou no auxílio à caça marinha, servindo como referências para o retorno das embarcações. Calcula-se que boa parte desses Inukashuk foram erguidos a mais de 4000 anos.

"Numa viagem de motocicleta pelo país acabei alcançando Yellowknife", lembra Peart. "Lá existe um Inukshuk no topo da cidade, e observá-lo me deixou completamente hipnotizado. Acabei comprando um cartão postal com uma imagem bem próxima daquela que temos na capa do disco. Assim que voltei com esse cartão pensei: 'Teste de eco. Isso é exatamente o que aqueles homens queriam quando estavam sozinhos naquele deserto. Quando você caminha por alguns dias e se depara com uma dessas coisas, elas se mostram a você como uma afirmação de que há vida lá fora. Mais uma vez é a mesma coisa, um eco, essa sensação que um viajante no Ártico teria como um sinal de vida. O mesmo acontece com as antenas parabólicas: elas se mostram como uma espécie de referência de busca da vida extraterrestre, e os testes de eco também acontecem dessa maneira".

Com "Test For Echo", o Rush consegue alcançar novamente a incrível arte de criar obras extremamente complexas que soam com simplicidade e acessibilidade, munidas da habilidade de conversar naturalmente com a essência do ser humano que, mesmo tão variada e complexa, ainda assim exprime peculiaridades comuns. Assim, "Test For Echo" é o velho Rush conhecendo o novo Rush: a complexidade do progressivo e a urgência do hard rock aliadas a uma grande melodia, e a união desses componentes torna sua arte tão singular e admirada.

"Em Test For Echo, as canções começaram apenas como ensaios individuais", esclarece Peart. "Mas é claro que elas refletem um período particular da vida e do tempo, e até mesmo os pequenos fragmentos de inspiração que venho escrevendo ao longo dos últimos anos também refletem uma época e uma sensibilidade. Dessa forma, suponho que seja inevitável que eles ecoem um tipo de unidade, da mesma forma que a vida de qualquer pessoa".

© 2016 Rush Fã-Clube Brasil

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