THE FOUNTAIN OF LAMNETH



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THE NECROMANCER  THE FOUNTAIN OF LAMNETH  2112


THE FOUNTAIN OF LAMNETH

I. In the Valley (4:18)

I am born
I am me
I am new
I am free
Look at me
I am young
Sight unseen
Life unsung

My eyes have just been opened
And they're open very wide
Images around me
Don't identify inside
Just one blur I recognize
The one that soothes and feeds
My way of life is easy
And as simple are my needs

Yet my eyes are drawn toward
The mountain in the east
Fascinates and captivates
Gives my heart no peace
The mountain holds the sunrise
In the prison of the night
Till bursting forth from rocky chains
The valley floods with light

Living one long sunrise
For to me all things are new
I've never watched the sky grow pale
Or strolled through fields of dew
I do not know of dust to dust
I live from breath to breath
I live to climb that mountain to
The Fountain of Lamneth

II. Didacts and Narpets (1:00)

Stay! Go!
Work! No!
Learn! Live!
Earn! Give!
Stay or fight? What's right?
Listen!

III. No One At the Bridge (4:19)

Crying back to consciousness
The coldness grips my skin
The sky is pitching violently
Drawn by shrieking winds
Seaspray blurs my vision
Waves roll by so fast
Save my ship of freedom
I'm lashed helpless to the mast

Remembering when first I held
The wheel in my own hands
I took the helm so eagerly
And sailed for distant lands
But now the sea's too heavy
And I just don't understand
Why must my crew desert me
When I need a guiding hand

Call out for direction
And there's no one there to steer
Shout out for salvation
But there's no one there to hear
Cry out supplication
For the maelstrom is near
Scream out desperation
But no one cares to hear

IV. Panacea (3:14)

The whiteness of confusion
Is unfolding from my mind
I stare around in wonder
Have I left my life behind

I catch the scent of ambergris
And turn my head... surprised
My gaze is caught and held
And I am helpless, mesmerized

Panacea - liquid grace
Oh let me touch your fragile face
Enchantment falls around me
And I know I cannot leave

Here's a meaning for my life
A shelter from the storm
Pacify my troubles with
Her body, soft and warm
Naked in our unity
A smile for every tear
Gentle hands that promise me
Comfort through the years
Yet I know I must be gone
Before the light of dawn

Panacea - passion pure
I can't resist your gentle lure
My heart will lie beside you
And my wandering body grieves

V. Bacchus Plateau (3:13)

Another endless day
Silhouettes of grey
Another glass of wine
Drink with eyes that shine
To days without that chill at morning
Long nights time out of mind

Draw another goblet
From the cask of '43
Crimson misty memory
Hazy glimpse of me
Give me back my wonder
- I've something more to give
I guess it doesn't matter
- There's not much more to live

Another foggy dawn
The mountain almost gone
Another doubtful fear
The road is not so clear
My soul grows ever weary
And the end is ever near

VI. The Fountain (3:49)

Look... the mist is rising
And the sun is peaking through
See, the steps grow lighter
As I reach their final few
Hear, the dancing waters
I must be drawing near
Feel, my heart is pounding
With embattled hope and fear

Now, at last I fall before
The Fountain of Lamneth
I thought I would be singing
But I'm tired... out of breath
Many journeys end here
But, the secret's told the same
Life is just a candle
And a dream must give it flame

The key, the end, the answer
Stripped of their disguise
Still it's all confusion
And tears spring to my eyes
Though I've reached a signpost
It's really not the end
Like Old Sol behind the mountain
I'll be coming up again...

I'm in motion
I am still
I am crying
I am still
I'm together
I'm apart
I'm forever
At the start

Still... I am
A FONTE DE LAMNETH

I. No Vale

Eu nasci
Eu sou eu
Eu sou novo
Eu sou livre
Olhe para mim
Eu sou jovem
Vista desconhecida
Vida não cantada

Meus olhos acabaram de se abrir
E estão abertos amplamente
Imagens ao meu redor
Não identifico aqui dentro
Apenas um borrão reconheço
Aquele que acalma e alimenta
Meu modo de vida é fácil
E tão simples são as minhas necessidades

Ainda que meus olhos sejam atraídos
Para a montanha ao leste
Fascina e cativa
Não dá paz ao meu coração
A montanha detém o nascer do sol
Na prisão da noite
Até irromper as cadeias rochosas
O vale se inunda de luz

Vivendo um longo nascer do sol
Para mim tudo é novo
Nunca vi o céu empalidecer
Ou passear pelos campos de orvalho
Não conheço o do pó ao pó
Vivo a cada suspiro
Vivo para escalar aquela montanha para
A Fonte de Lamneth

II. Pais e Didatas

Fique! Vá!
Trabalhe! Não!
Aprenda! Viva!
Ganhe! Dê!
Ficar ou lutar? O que é o certo?
Ouça!

III. Ninguém No Passadiço

Chorando de volta à consciência
A frieza agarra minha pele
O céu escurece violentamente
Desenhado por ventos gritantes
A bruma do mar borra minha visão
Ondas rolam tão depressa
Salve meu navio da liberdade
Estou flagelado e desamparado no mastro

Lembrando quando segurei pela primeira vez
O timão em minhas mãos
Assumi a direção tão avidamente
E naveguei para terras distantes
Mas agora o mar está muito pesado
E eu simplesmente não entendo
Por que minha tripulação me desertou
Quando preciso de uma mão guia

Peço por direção
E não há ninguém lá para guiar
Brado por salvação
Mas não há ninguém lá para ouvir
Clamo por súplicas
Pois o redemoinho está próximo
Grito em desespero
Mas ninguém se importa em ouvir

IV. Panaceia

A alvura da confusão
Se desdobra da minha mente
Olho ao redor maravilhado
Já deixei minha vida para trás

Pego o aroma do âmbar
E viro minha cabeça... surpreso
Meu olhar é capturado e mantido
E estou indefeso, hipnotizado

Panaceia - graça líquida
Oh, deixe-me tocar seu rosto frágil
Encantamentos caem ao meu redor
E sei que não posso partir

Eis um significado para minha vida
Um abrigo da tempestade
Pacifique meus problemas com
Seu corpo, macio e quente
Nu em nossa união
Um sorriso para cada lágrima
Mãos gentis que me prometem
Conforto ao longo dos anos
No entanto sei que devo partir
Antes da luz do amanhecer

Panaceia - paixão pura
Não posso resistir à sua isca suave
Meu coração vai estar ao seu lado
E meu corpo errante se aflige

V. O Platô de Baco

Outro dia sem fim
Silhuetas em cinza
Outro copo de vinho
Bebida com olhos brilhantes
Para dias sem aquele calafrio na manhã
Noites longas, tempo fora da mente

Chame outro cálice
Do barril de 43
Memórias nebulosas em carmesim
Vislumbre obscuro de mim
Me devolva minha admiração
- Tenho algo mais a dar
Acho que não importa
- Não há muito mais para viver

Outro amanhecer enevoado
A montanha quase desapareceu
Outro medo duvidoso
A estrada não está tão clara
Minha alma cresce cada vez mais cansada
E o fim está sempre por perto

VI. A Fonte

Olhe... a névoa está subindo
E o sol está passando por ela
Veja, os passos ficam mais leves
Enquanto alcanço os últimos momentos
Ouça, as águas dançantes
Devo estar chegando perto
Sinta, meu coração está batendo
Com esperança aguerrida e medo

Agora, pelo menos caio diante
Da Fonte de Lamneth
Pensei que iria cantar
Mas estou cansado... sem fôlego
Muitas jornadas terminam aqui
Mas, o segredo conta o mesmo
A vida é apenas uma vela
E um sonho deve lhe dar a chama

A chave, o final, a resposta
Despojados de seus disfarces
Ainda é tudo confusão
E lágrimas brotam em meus olhos
Apesar de eu ter alcançado a placa
Realmente não é o fim
Como o velho sol atrás da montanha
Voltarei novamente...

Estou em movimento
Ainda sou
Estou chorando
Ainda sou
Estou junto
Estou à parte
Sou eterno
No começo

Ainda... sou


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson / Letra por Neil Peart
Exceto "Panacea" e "Bacchus Plateau", Música por Geddy Lee / Letra por Neil Peart


O completo ciclo da vida em uma narrativa épica simbólica e colossal

A faixa que conclui Caress of Steel é a exótica e extensa "The Fountain Of Lamneth". Intensificando ainda mais o formato épico experimental oferecido pela anterior "The Necromancer", a canção, com seus quase vinte minutos, conseguia tomar por completo o lado B do antigo vinil. Do acorde de abertura até o último efeito (que nos leva a imaginar um livro se fechando), a obra permanece como uma forte e incompreendida criação da banda, representando outro importantíssimo momento de transição ao indicar a natureza das próximas composições que marcariam por completo o panteão dos canadenses no decorrer dos anos de 1970.

Excessivamente ambiciosa e simbólica, "The Fountain of Lamneth" constrói uma saga completa sobre um homem em busca de uma fonte, narrando as ocorrências distintas de sua longa jornada. O épico ilustra a compulsão do indivíduo em ver e experimentar o mundo, buscando compreender o significado de todas as suas inúmeras experiências vividas. Por fim, o viajante encontra, como chave das suas indagações, o próprio fim, ou seja, que não existe resposta alguma.

Seis movimentos individuais compõem o tema, estes que se complementam através de várias evidências líricas e musicais. Neil Peart e seus companheiros trazem a certeza de que estes foram feitos para serem tomados como um todo, pois há uma constante recorrência de vários motivos líricos e musicais. Tais passagens representam fases distintas de uma vida que se dedica à busca por respostas, nos ajudando inclusive e perceber claramente que a banda se encontra em franco desenvolvimento de suas capacidades e variações de composição.

"A ideia para 'The Fountain Of Lamneth' veio originalmente de uma época em que eu sempre dirigia do topo de uma montanha até a sua base. Vendo as luzes da cidade, comecei a pensar: 'O que seria da vida se você pudesse apenas medir sua posição como pessoa pelo nível no qual vive na face de uma montanha?' Desenhei relações, vendo diversas comparações nesta metáfora, e finalmente fiz um rascunho das seis partes diferentes que achei que deveriam existir para tal odisseia. Foi realmente ingênuo, admito isso agora, foi algo ridículo como escrever uma tese de metafísica ou coisa do tipo. Mas naquele momento me pareceu o certo, e o que posso dizer é que nós a fizemos e realmente gostamos".

"Essa canção foi algo que apenas tínhamos que fazer"
, lembra Geddy. "Mas ela é do tipo absurda, e é exatamente onde deveríamos estar. Éramos uma banda jovem, um pouco pretensiosa, cheia de ambições e grandes ideias, e queríamos ver se conseguíamos fazer algumas dessas ideias acontecerem. 'The Fountain of Lamneth' foi a primeira tentativa de fazermos isso. Acho que há nela alguns momentos bonitos, mas muitas coisas ali são pesadamente fora do alvo. Foi a canção que mais havia nos levado tempo para fazermos até então. Acho que consumiu cerca de três semanas, e acho que estávamos apenas nos tratando com indulgência nela".

I. In The Valley (0:00 – 4:18 / Total: 4:18)

"In The Valley" inicia o conto "The Fountain of Lamneth" de forma airosa, abrindo a história com um belo violão folk de doze cordas executado por Lifeson e com vocais incrivelmente calmos de Lee. A canção logo se torna mais intensa, desaguando em riffs cortantes, contratempos, variações de andamento e tudo o que o Rush é capaz de oferecer, características importantíssimas que deflagram sua genialidade musical.

No vale, observamos a representação do nascimento do protagonista, trazendo a maravilha e inocência da infância - o início, por assim dizer. Ele levanta seus olhos para a montanha da vida e começa a se deslumbrar com ela, estrutura que guarda a fonte. É clara a representação dessa primeira fase, onde a falta de experiência e de conhecimento torna as coisas tão maiores e assustadoras, mas ao mesmo tempo tão naturais e livres de significados e tradições, que geralmente são repassados por aqueles que estão ao redor.

II. Didacts And Narpets (4:19 – 5:19 / Total: 1:00)

A curta "Didacts and Narpets" consiste em uma explosiva demonstração do impressionante talento de Peart na bateria, através da execução de um solo raivoso repleto de velocidade e precisão que ajuda a traduzir toda a confusão, tensão e dúvida proposta nessa parte do épico, este que reflete os anos conturbados da adolescência, suas constantes pressões, indecisões e cobranças por reponsabilidades. Durante o andamento de "Didacts and Narpets", Geddy e uma voz misteriosa gritam palavras de difícil entendimento com sentidos opostos que não estão inclusas no encarte, apenas constando a última expressão, "…Listen!".

"Ok, já devo ter respondido isso antes, mas se não, as palavras gritadas naquela música representam uma discussão entre nosso herói e os Didacts and Narpets – professores e pais. Honestamente não consigo me lembrar quais eram as palavras, mas eram opostas: Trabalhe! Viva! Ganhe! Dê!, e assim por diante", explica o letrista.

Portanto, temos aqui elementos bastante interessantes. A proposta do termo didata (didact) denota, na verdade, aquele que ensina. Compartilhando da raiz da palavra didática, que é fortemente relacionada com ensino, inevitavelmente entendemos o didata como a representação da figura dos professores. Já narpets é, na verdade, um anagrama para ilustrar os pais confusos do indivíduo (parents).

Nessa fase, o protagonista experimenta o período em que começa a tentar entender quem ele realmente é e o que deve fazer, sofrendo influências sociais e enfrentando dramas bastante intensos.

III. No One At The Bridge (5:20 – 9:39 / Total: 4:19)

Com o som do mar ao fundo, "No One At The Bridge" se inicia em efeitos de guitarra que preparam o terreno para que Geddy comece a expor todo o lamento e intenso desespero implícitos na letra dessa parte da canção. Retratando, a partir de uma estrutura simples, um navio à deriva, com o convés sem uma tripulação e um comandante, a sessão apresenta o novo adulto, desamparado no mastro no momento em experimenta o mundo por si só, tendo que ser forte na difícil correnteza da vida e sem poder contar com qualquer auxílio.

O poema épico A Odisséia, de Homero, (~900 A.C.) inspirou esse trecho em "The Fountain of Lamneth". Na obra, o herói Odisseu, para evitar aproximação com as sereias sedutoras, utilizou cera nos ouvidos de seus marinheiros e amarrou-se no mastro de seu navio para poder ouvi-las sem conseguir se aproximar. As sereias são seres mitológicos que habitavam rochedos costeiros, tão lindas e que cantavam com tanta doçura que atraíam os tripulantes dos navios que passavam, para que os mesmos colidissem nas rochas, afundando em seguida.

Alex aponta como principal influência para som do álbum o famoso guitarrista Steve Hackett, da banda britânica Genesis, particularmente para o solo de "No One at the Bridge". "Ele é tão articulado e melódico, tão preciso e fluido. O solo quase rouba o seu estilo de tocar, e é um dos meus favoritos", diz.

IV. Panacea (9:40 – 12:54 / Total: 3:14)

Com a calma "Panacea", o Rush evoca um momento único em "The Fountain Of Lamneth". Partindo de um belíssimo violão com cordas de nylon oferecido por Lifeson, toda a banda se apresenta em uma tocante leveza acústica para oferecer uma passagem que faz referência à deusa grega da cura, cujo nome (Panaceia) também significa "um remédio para todos os males".

Esse trecho trata sobre o tenro encontro da felicidade e da alegria na vida, expondo o poder revigorante de uma forte paixão. O protagonista descobre o amor como um grande alívio para sua alma inquieta, após todas as incertezas e dificuldades das passagens anteriores. "Panacea" pode ser relacionada ao relativo alcance da paz na tão sonhada estabilidade que a maturidade propõe ao ser humano.

V. Bacchus Plateau (12:55 - 16:08 / Total: 3:13)

A bem-humorada "Bacchus Plateau" refere-se à velhice, quando olhamos para trás e percebemos o que conseguimos durante toda vida. Depois de tantas idas e vindas, chega o momento do descanso, porém a realidade de que não há muito mais para se viver. Em um momento de bela melodia adornado por um solo de guitarra notável, temos aqui a descrição de uma época em que o indivíduo naturalmente encontra-se realizado, mas geralmente cansado e sem novos objetivos. A vida, que antes era movida por desafios, torna-se monótona e sem novas aspirações.

"Bacchus Plateau" mostra inspirações da Mitologia Romana. Baco (Bacchus) era o filho do deus olímpico Júpiter e da mortal Sêmele. Deus do vinho e da folia, ele representava seu poder embriagador e lascivo e suas influências benéficas e sociais, sendo um promotor da civilização, legislador e amante da paz. Líber é seu nome latino e Dioniso é seu equivalente grego.

Em "Bacchus Plateau", o viajante está em uma espécie de encruzilhada. Ele descobre o vinho como uma distração temporária, simbolizando a futilidade de sua existência. Originalmente, o refrão do trecho dizia, "You’ve something more to give / I guess it doesn’t matter / You’ve so much more to live" ("Você tem algo mais para dar / Acho que não importa / Você tem muito mais para viver"). Porém, Neil decidiu mudar as perspectivas de seu personagem, com a frase final "There’s not much more to live" ("Não há muito mais para viver").

VI. The Fountain (16:09 - 19:58) Total: 3:49

Ao alcançarmos "The Fountain", nos deparamos com um retorno ao tenso instrumental inicial, onde observamos nitidamente uma intenção de recomeço, uma volta ao ponto inicial da jornada. Peart fecha o épico com uma representação da fonte como sendo, na verdade, a grande epifania da vida. Temos aqui uma súbita sensação de realização ou compreensão da essência, com o personagem encontrando finalmente a última peça do quebra-cabeça e estando nesse momento apto para observar a imagem completa. De forma frustrante e ao mesmo tempo extremamente satisfatória, temos como chave nessa canção o próprio fim, ou seja, a não existência de resposta alguma.

A fonte, portanto, é a própria ideia constante de procurar algo mais na vida.

© 2014 Rush Fã-Clube Brasil

TELLERIA, E. Merely Players Tribute. Quarry Music Books, 2002.
BANASIEWICZ, B. Rush Visions: The Official Biography. Omnibus Press, 1987.
BURKERT, W. Greek Religion: Archaic and Classical. Wiley-Blackwell, 1991.
HOMERO. Odisseia. Trad. Carlos Alberto Nunes; rev. Marcus Rei Pinheiro. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997.