TURN THE PAGE



VOLTAR PARA "HOLD YOUR FIRE"
VOLTAR PARA DISCOGRAFIA
VOLTAR PARA LETRAS E RESENHAS

MISSION  TURN THE PAGE  TAI SHAN


TURN THE PAGE

Nothing can survive in a vacuum
No one can exist all alone
We pretend things only happen to strangers
We've all got problems of our own

It's enough to learn to share our pleasures
We can't sooth pain with sympathy
All that we can do is be reminded -
We shake our heads at the tragedy

Every day we're standing in a time capsule
Racing down a river from the past
Every day we're standing in a wind tunnel
Facing down the future coming fast

It's just the age
It's just a stage -
We disengage -
We turn the page...


Looking at the long-range forecast
Catching all the names in the news
Checking out the state of the nation
Learning the environmental blues

Truth is after all a moving target
Hairs to split, and pieces that don't fit
How can anybody be enlightened?
Truth is after all so poorly lit
VIRE A PÁGINA

Nada pode sobreviver no vácuo
Ninguém pode existir totalmente sozinho
Fingimos que as coisas só acontecem com estranhos
Todos nós temos nossos próprios problemas

Isso é o suficiente para aprendermos a partilhar nossas alegrias
Não podemos aliviar dor com simpatia
Tudo o que podemos fazer é sermos lembrados -
Balançamos nossas cabeças na tragédia

Todos os dias estamos em uma cápsula do tempo
Descendo por um rio do passado
Todos os dias estamos em um túnel de vento
Enfrentando o futuro que vem rapidamente

É só a época
É só uma fase -
Nos libertamos -
Viramos a página...


Dando uma olhada nas previsões de longo prazo
Pegando todos os nomes nos noticiários
Conferindo o estado da nação
Se informando sobre a tristeza ambiental

Afinal a verdade é um alvo em movimento
Discussões vãs e peças que não se encaixam
Como alguém pode ser esclarecido?
Afinal a verdade é tão mal iluminada


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson / Letra por Neil Peart


As forças do tempo que comprimem a vida

"Turn The Page" é a oitava canção de Hold Your Fire, uma faixa que, assim como "Force Ten", pode ser considerada como um dos momentos mais intensos de todo o disco. Bastante dinâmica, a composição é marcada por mudanças de andamento e compassos muito complexos, guiados por grandiosa percussão, sintetizadores pontuais, guitarras ardentes e certeiras e linhas de baixo simplesmente incríveis - ao lado dos vocais sempre poderosos oferecidos por Geddy Lee.

De fato, uma das características mais marcantes em "Turn The Page" é a incrível performance oferecida por Geddy, que trabalha suas atividades com a voz, baixo e teclados em um conjunto impressionante e incomum, como se cada função fosse desempenhada por um músico diferente. "Tive grandes problemas em tocar 'Turn The Page' ao vivo", explica. "Trata-se de uma música bastante ocupada pelo baixo, onde os vocais não se relacionam em praticamente nada com ele. No fim consegui, mas tive que treinar bastante. Você consegue fazer essas coisas, mas tem que se dedicar de forma árdua - como dizem, tem que se dividir. Dividir-se em três na verdade, deixando suas mãos fazerem uma coisa, e sua voz outra completamente diferente".

"O riff principal que abre 'Turn The Page' veio diretamente de uma jam session"
, continua. "As principais ideias são as espontâneas".

"A versão original dessa canção não era tão ocupada pelo baixo. Quando estava no estúdio, fui muito incentivado a mergulhar mais nela. Isso é tudo o que preciso ouvir, então fui. A introdução estava lá - ela veio de uma jam. A faísca para a música inteira veio de uma jam nas passagens de som. Toquei essa introdução em um baixo, quando todo mundo acha que é um violão. É um baixo. Foi o que estimulou a música inteira".


Alex Lifeson realiza em "Turn The Page" um de seus solos mais originais. Intenso e furioso, ele nos ajuda a mergulhar na atmosfera temporal idealizada por Peart para a canção. Porém, essa não era a intenção inicial do guitarrista. "O solo nasceu mais pela musicalidade da canção do que pelo conteúdo lírico. Acho que foi mais devido ao clima criado pela música. De alguma forma, ele acabou anexado à letra. 'Turn The Page' traz algo maníaco e louco. Eu não tinha essa direção e sonoridade excêntrica em mente. Consegui a mesma no estúdio".

"'Force Ten' e 'Turn The Page' foram feitas porque sentíamos que estávamos indo em uma direção mais leve, e não achávamos que esse era um quadro total do Rush"
, reconhece Geddy. "Achamos que seria injusto fazer o álbum inteiro nesse tom de leveza. A banda queria muito tocar e sentir o rock, e acho que essas canções foram escritas para satisfazer uma parte de nós que está sempre viva. Às vezes, até sinto que estamos fazendo rock, mas quando você senta sem planejar o que está fazendo, acontece naturalmente - você escreve o que sai de você. Acho que nenhum estilo que fazemos em um determinado disco indica necessariamente o que iremos fazer da próxima vez".

Retomando o tema tempo que, ao lado dos instintos compõem o pilar temático de Hold Your Fire, Peart expressa em "Turn The Page" pensamentos sobre pessoas que esgotam suas energias por estarem obcecadas em questões menos importantes - remoendo o passado ou idealizando intensamente o futuro - ignorando questões que realmente importam no presente. Em equivalência, "Turn The Page" também pensa o próprio desenrolar das nossas vidas, comparando nossa história a um livro que vai sendo escrito ao longo do tempo. "Hold Your Fire é um álbum bem pessoal na maioria das vezes", diz Lifeson. "Ele lida com o crescimento e com a importância do tempo. 'Turn The Page', por exemplo, descreve como nossas vidas vão sendo escritas como se fossem páginas, como se cada experiência vivida preenchesse uma delas - e o passar de tudo acaba se comparando a um livro".

A letra de "Turn The Page" é constituída por dois momentos. O primeiro, marcante nos dois versos iniciais, oferece um desafio no que diz respeito às experiências internas e relações interpessoais. Da mesma forma que na terceira faixa "Open Secrets" e em "Emotion Detector" (de Power Windows, 1985), o letrista relembra que a única maneira pela qual podemos crescer nas relações com outras pessoas é nos abrirmos para elas, tentando ser um pouco mais vulneráveis. Já no momento seguinte, o letrista traz ideias de como tendemos a ser superficiais e simplórios na busca pelo entendimento da conjuntura que integramos, recorrendo geralmente a artifícios imediatistas para definir nossas verdades - estas que, mesmo através de observações complexas, jamais conseguiremos alcançar completamente.

Peart utiliza elementos muito interessantes para expressar suas ponderações sobre as pressões que exercemos sobre nós mesmos pelas forças temporais. Termos curiosos como cápsula do tempo (recipiente especialmente preparado para armazenar objetos ou informações com o objetivo de que os mesmos possam ser encontrados por gerações futuras) e túnel de vento (estruturas que propiciam a simulação do comportamento do ar em relação a diversos tipos de objetos, como aviões, carros e até mesmo na construção civil) enriquecem na canção. Além disso, há também a citação de um bordão vindo da mídia para ilustrar suas intenções do baterista: "Looking at the long range forecast" ["Dando uma olhada na previsão de longo prazo"] era uma frase muito utilizada pelo meteorologista norte-americano Stuart Hall, do Channel 3 de Burlington, Vermont (EUA), no momento em que finalizava seu programa trazendo a previsão do tempo para os próximos dias. Hall acabou inspirando também inspirou um trecho da canção "Prime Mover".

"Meus objetos são sempre extraídos de outras pessoas, embora seja bom encontrar um paralelo pessoal com algo que me perturbe", diz Peart. "Esse tema é recorrente em mim, e em Hold Your Fire há 'Turn The Page', que expressa a mesma atitude: o quão sensível você pode se permitir ser? Se assiste as notícias ou lê os jornais, o quanto você pode se permitir sentir todas essas coisas? O quanto você pode se envolver com o mundo sem querer se matar imediatamente?".

"Turn The Page" provoca reflexões sobre a dinâmica do tempo sobre nossas vidas. O futuro ainda está por vir e, com sua chegada, ele será o presente. Por outro lado, o passado já não existe mais e, quando existiu, ele era o presente. Portanto, Peart afirma com essa belíssima canção que o presente é o único momento que realmente existe para nós. É nele que devemos investir nossa energia, atenção, concentração e ações, onde podemos modificar as conseqüências do passado e mudar as perspectivas e possibilidades para o futuro. Como expressado em "Force Ten", cada fato ou ocorrência na vida é um novo momento presente, que precisam ser vividos e observados em toda sua plenitude.

O presente deve ocupar nossa vida, em todos os instantes. É nele que devemos buscar o sentido das coisas, tentando fazer o melhor que pudermos nas situações e experiências com as quais nos envolvemos. Tudo que nos acontece acaba se relacionando com o que somos, e todas as decisões que tomamos se relacionam com o que nos tornamos.

Por outro lado, viver um momento de cada vez nos dá a oportunidade de aproveitar de fato a vida, mergulhando plenamente em experiências, aproveitando aprendizados embutidos em cada acontecimento e em cada pequeno evento - em cada sensação. Nada é tão insignificante que não mereça nossa atenção, e nada é tão importante que mereça nossa completa absorção. O mais importante, novamente, é a busca pelo equilíbrio, este presente em várias outras canções do Rush.

"Turn The Page", maravilhosamente, nos leva a pensar sobre viver o presente no presente, de modo que o passado e o futuro permaneçam interligados a ele e jamais sobrepostos. É viver o hoje mantendo o ontem apenas como referência e o amanhã como alvo. O ato de virar uma página completa para uma totalmente nova é, de fato, o mais importante em nossa jornada. O que fica claro é que a repetição mental de eventos passados consome nossas energias, importantes para nosso bom desempenho presente e, da mesma forma, expectativas demasiadas por eventos futuros provoca tensões e ansiedade que também nos tiram a vitalidade essencial para nossas realizações e felicidade - fatores que não devem se perder em algum lugar do passado, e que também não estão escondidos em algum canto obscuro do futuro.

© 2015 Rush Fã-Clube Brasil

PRICE, Carol S. PRICE, Robert M. "Mystic Rhythms: The Philosophical Vision of Rush". Borgo Press. 1999.
BERTI, J. "Rush and Philosophy: Heart and Mind United (Popular Culture and Philosophy)". Chicago: Open Court, 2011.
DOME, M. "All Fired Up". Metal Hammer. April 25, 1988.
SWENSON, J. "Rush Exchanges Heavy-Metal Image For Mature Musical Style". United Press International. December 1, 1987.
PUTTERFORD, M. "Lifeson Times". Kerrang! Nº 158. October 17, 1987.
PEART, N. "My Laurentian Soulscape". Canadian Geographic. January / February 2006.
STIX, J. "Geddy Lee: Head Music". Guitar For The Practicing Musician. July 1989.
TOLLESON, R. "Geddy Lee: Bass Is Still The Key". Bass Player. November / December 1988.