SPINDRIFT



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SPINDRIFT

As the waves crash in
On the western shore
The wind blows fierce from the east
Wavetops torn into flying spindrift

As the waves crash in
On the western shore
It makes me feel uneasy
The spray that's torn away
Is an image of the way I feel

What am I supposed to say?
Where are the words to answer you
When you talk that way?


As sun goes down
On the western shore
The wind blows hard from the east
It whips the sand into a flying spindrift

As the sun goes down
On the western shore
It makes me feel uneasy
In the hot dry rasp of the devil winds
Who cares what a fool believes?

What am I supposed to say?
Where are the words to answer you
When you talk that way?
Words that fly against the wind and waves

(A little closer to you)
Where is the wave that will carry me
A little closer to you?

What am I suppose to do?
Where are the words that will make you see
What I believe is true?
GOTÍCULAS

Enquanto as ondas quebram
Na costa ocidental
O vento sopra feroz vindo do leste
Cristas de ondas se fragmentam em gotículas suspensas

Enquanto as ondas quebram
Na costa ocidental
Isso me faz sentir apreensivo
O spray que é rasgado
É uma imagem de como eu me sinto

O que devo dizer?
Onde estão as palavras para lhe responder
Quando você fala assim?


Enquanto o sol se põe
Na costa ocidental
O vento sopra forte vindo do leste
Chicoteia a areia em gotículas suspensas

Enquanto o sol se põe
Na costa ocidental
Isso me faz sentir apreensivo
Na grosa quente e seca dos ventos diabólicos
Quem se importa com as crenças de um tolo?

O que devo dizer?
Onde estão as palavras para lhe responder
Quando você fala assim?
Palavras que voam contra o vento e as ondas

(Um pouco mais perto de você)
Onde está a onda que me levará
Um pouco mais perto de você?

O que eu devo fazer?
Onde estão as palavras que farão você ver
Que o que creio é verdade?


Música por Geddy Lee e Alex Lifeson. Letra por Neil Peart


Queremos respostas, mas as mesmas se mostram cada vez mais indecifráveis

A quinta faixa de Snakes & Arrows é a poética e dramática "Spindrift". Pesada e intensa, foi o segundo single para o álbum, lançado no dia 1º de junho de 2007. A composição transforma momentaneamente o clima estabelecido pelas canções anteriores (alicerçadas em bases fortemente acústicas e atmosferas mais amenas) em um turbilhão obscuro de sensações incrivelmente aterradoras.

Com uma introdução enigmática crescente que envolve arpejos ressoantes e sutis, "Spindrift" explode sua simetria musical com uma parede sonora devastadora, jorrando ímpeto e energia que mergulham o ouvinte numa vigorosa carga harmônica. Com sugestões do coprodutor Nick Raskulinecz, os versos e pontes foram construídos com altas doses de tensão e angústia, emergidos por guitarras pesadas e abundantes, linhas de baixo pulsantes e preenchimentos percussivos dinâmicos. Uma sequência ascendente de acordes é oferecida e, após suas reprises subsequentes de grooves crescentes, experimentamos uma espécie de refrão tocante e ritmado que consegue contrastar o apelo visual perfeitamente, sempre retomando sua marcante explosão de riffs. O aparato instrumental é adornado por algumas das linhas vocais mais poderosas oferecidas por Geddy Lee no disco, utilizadas de forma inteligente para descrever variados elementos naturais e suas belíssimas metáforas, que reforçam a força da banda em conseguir projetar com perícia todas as imagens contidas em suas letras. "Spindrift" é, certamente, uma das canções com as sensações mais transcendentais que o Rush já criou em sua extensa carreira.

"Tivemos muitas canções que Nick não quis modificar", explica Alex Lifeson. "Porém, ele sugeriu pequenas alterações nos arranjos de algumas delas, tornando um refrão mais longo ou uma ponte menor - esse tipo de coisa. Na verdade, as grandes alterações ocorreram em poucas canções, como na ponte e no refrão de 'Spindrift', que realmente passou por mudanças radicais. Ficamos impressionados com Nick, pois ele não tinha medo de nos dizer que havíamos errado. Além disso, ele nos permitia qualquer coisa que quiséssemos e quantas vezes quiséssemos - diferente de muitos produtores atuais, que só querem trabalhar quando tudo já está pronto e definido".

"Essa canção traz muitos sentimentos diferentes na bateria"
explica Neil Peart. "Os golpes percorrem vários movimentos diferentes, em trechos que são enganosamente simples. O deus aqui é o detalhe. A canção inteira é uma performance 'muscular' que me tomou muita concentração, pois buscou fechar bastante com os vocais. Essa ação na percussão é por vezes subestimada, por parecer apenas um tipo de acompanhamento, mas se você toca uma canção com letra, o canto deve ser sempre considerado 'importante'. Por essa razão, e talvez por ser eu quem compõe as letras, acabo dando muita atenção aos vocais, tentando moldá-los de forma eficaz e discreta enquanto atravesso-os ritmicamente quando posso".

"Foi ideia de Booujze reprisar a introdução após o falso final", continua o baterista. "Ele me deixou louco mais uma vez, mas acabei aceitando fazer. Raramente utilizamos fade-out em nossas canções, mas em 'Spindrift' parecia inevitável. Fiquei feliz em divertir o Booujze (como sempre fico), colocando algo um pouco mais 'cômico' para preencher esse fade".

Forjada em tensão, "Spindrift" traz um vasto conjunto de características marcantes do trabalho da banda, especialmente de Peart como letrista. Primeiramente, assim como a clássica "Distant Early Warning" de Grace Under Pressure (1984), sua construção lírica também é apresentada como uma espécie de "discussão de amantes". Conforme esclarecido pelo próprio músico, o destinatário, entretanto, não representa o "outro em si", mas uma parte significativa do todo ou do mundo inteiro. Também é notória a utilização metafórica de elementos e fenômenos naturais, estes que recordam composições clássicas e algumas mais recentes, como "Jacob's Ladder" e "Natural Science", de Permanent Waves (1980), "Chain Lightning", de Presto (1989), "Between Sun & Moon", de Counterparts (1993) e "Earthshine", de Vapor Trails (2002). Outro fato interessante é a sua construção marcadamente soturna, similar à peças como "Stick It Out" e "Double Agent", de Counterparts, "Driven" e "Time and Motion", de Test For Echo (1996), "Witch Hunt", de Moving Pictures (1981) e "Between The Wheels", de Grace Under Pressure (1984).

O termo central Spindrift refere-se às gotículas que flutuam do topo das ondas no mar quando ocorrem ventos demasiadamente fortes. De forma incrivelmente visual, as imagens das ondas quebrando saltam aos olhos do ouvinte.

"Spindrift" é uma canção bastante aberta a significados. Poética e simbólica, ela parte da exibição de imagens da natureza para propor algumas indagações profundas dispostas em primeira pessoa, com o protagonista solitário e aflito lançando seus questionamentos enquanto o vento sopra e as ondas do mar se chocam na costa. Todas as cenas descritas se encaixam perfeitamente com os climas e movimentos musicais, estes que trazem como cerne a projeção de todo o lamento, inquietude e perplexidade da própria imagem do questionador nas gotículas que emanam na paisagem e que se perdem no ar.

Peart combina sentimentos e reações nesse belo cenário litorâneo, trazendo observações interessantes que devem ser interpretadas em diferentes escalas - partindo das dificuldades de comunicação e compreensão nas relações pessoais cotidianas e também da humanidade em geral. Com "Spindrift", o baterista sugere considerações em níveis distintos, desde a posição diminuta do ser humano em relação à grandeza e a dinâmica do planeta e do Universo às divisões nocivas que separam os homens - não somente em grandes escalas, mas também nas relações pormenorizadas.

Num primeiro momento, "Spindrift" conduz o ouvinte ao teor de "The Stars Look Down", do álbum anterior Vapor Trails, que reflete a indiferença do Universo sobre o desenrolar prático da vida dos homens e suas inúmeras inquietações. Retomando o foco crítico de Snakes & Arrows, outro prisma interessante e já visitado por Neil Peart no passado refere-se ao fato de como nações, organizações e sistemas religiosos se posicionam totalmente desconectados no ponto de vista global, com o letrista sugerindo reflexões sobre o desamparo em torno de diálogos significativos devido a fundamentalismos que disseminam seres humanos cada vez mais perdidos, incoerentes e desolados. A canção também evoca a inimaginável variedade de realidades, situações e desdobramentos que ocorrem nas vidas ao redor do planeta, muito além do que tentamos cogitar de maneira simplória, além de afirmar nas entrelinhas que nenhuma situação, boa ou ruim, pode perdurar para sempre. Por fim, mesmo com as pessoas sendo tragadas por mecanismos de controle e opressão que extirpam o livre pensamento (e por mais que a conjuntura se mostre a cada dia mais complexa, pessimista e repleta de barreiras erguidas por nós mesmos), as repostas e soluções sempre nascerão no diálogo munido de compreensão, respeito e disposição para o entendimento.

© 2016 Rush Fã-Clube Brasil