PONDERAÇÕES SOBRE O FUTURO DO RUSH



04 DE AGOSTO DE 2015 | POR VAGNER CRUZ

O Rush finalizou no dia 1º de agosto em Los Angeles sua bem-sucedida turnê R40, que comemora os quarenta anos desde o lançamento do álbum de estreia e a chegada de Neil Peart, ambos ocorridos em 1974. Com início em 8 de maio em Tulsa, Oklahoma, a R40 trouxe o trio de volta e em grande forma, oferecendo inúmeras novidades marcantes para seu novo show. Partindo de set lists variados, cronológicos e com forte foco nos anos 70, Geddy, Alex e Neil brindaram, além de canções há muito não executadas como "Jacob's Ladder", "Cygnus X-1 Book II: Hemispheres" e "Lakeside Park", novidades também na série de instrumentos utilizados: um grande número de baixos diversificados intercalados por Geddy e dois diferentes em kits de bateria utilizados por Peart - um deles inclusive, apelidado de El Darko, remonta o clássico e marcante Slingerland de dois bumbos da fase clássica.

Com o anúncio em janeiro de 2015 da 21ª turnê da carreira, o site oficial do Rush publicou a seguinte frase: "Essa provavelmente será a última dessa magnitude". Assim, inúmeras revistas, fóruns e outras páginas começaram a especular que o fim do Rush estava decretado, algo que jamais fora afirmado pelo trio. O que temos, com o fim dessa tour, é a possibilidade da banda continuar na estrada em tempos futuros, porém com investidas menores que as habituais. Além disso, eles já mencionaram em entrevistas recentes o desejo de gravar um novo álbum em algum momento, salientando a satisfação que sentem em compor juntos.

Ao término da última apresentação em Los Angeles, com "Working Man" seguida do trecho de "Garden Road", Peart protagonizou dois momentos ímpares: após fazer pessoalmente algumas fotos dos seus colegas no palco e do público, ele se deslocou do seu kit de forma inédita para agradecer aos fãs ao lado de Geddy e Alex. Com isso, inevitavelmente, muitos comentários, suposições e comoção pela cena surgiram por todos os lados, em meio aos fãs e também profissionais da imprensa musical. Por mais que esse seja indiscutivelmente um momento de mudanças, acreditamos que os jovens senhores ainda não esgotaram sua maravilhosa capacidade e inquietação por belas e novas criações e investidas. Para corroborar a afirmação, trazemos o ótimo texto Some Observations About the End of the R40 Tour, da descobridora do Rush nos Estados e amiga de longa data da banda Donna Halper, material publicado nessa segunda feira (03/08) em seu blog Dialogue & Discourse, com tradução autorizada pela própria autora para os fãs do Brasil.

Algumas Observações Sobre o Fim da Turnê R40
Por: Donna Halper | 03 de agosto de 2015

Os instantes finais da turnê R40 em Los Angeles | Foto por Teresa Smoot‎

Eu não iria postar sobre o Rush no blog nessa semana - há tantas coisas para falar (não que falar sobre o Rush não seja importante também). Porém, comecei a receber muitos e-mails e mensagens nas redes sociais: várias pessoas entraram em contato comigo ao longo dos últimos dias, me dizendo o quão tristes estão por essa ser possivelmente a última das turnês do Rush. Fãs internacionais estão enfrentando a perspectiva de que o Rush nunca chegará ao seu país; fãs dos Estados Unidos e Canadá estão enfrentando a perspectiva de que esse é o fim de uma era. E talvez seja.

Mas, novamente, talvez não seja. Deixe-me dizer que não disponho de nenhuma informação privilegiada. Perguntei ao Alex sobre isso, e ele me disse que essa turnê foi única, pois a banda estava focada no "agora" em vez de fazer quaisquer planos futuros. Foi quase libertador fazer dessa forma - tomando um dia de cada vez, sem nada pairando sobre eles, nada para se preocupar, bastando chegar lá e tocar para os fãs. Simples, realmente. E, no entanto, desconcertante para todos nós. Os fãs amam essa banda, e não saber qual o próximo passo pode ser aterrorizante. Esse é o fim das turnês? Por mais de quarenta anos, fãs (inclusive eu) tiveram o conforto de saber que o Rush ainda estava lá, tocando. Milhões de pessoas os viram. Amizades foram moldadas em shows e inúmeros fãs (e os que serão fãs) se reuniram antes, durante e depois de uma apresentação apenas para compartilhar a experiência e mantê-la viva um pouco mais.

Para alguns desses fãs, especialmente aqueles cujo amor e fidelidade se estendem por quarenta anos, estes sentem quase que como uma morte na família. Não, não estou tentando ser melodramática - pessoas realmente se ligam a essa banda, parecendo ter alguma conexão pessoal com os caras. Claro, você pode falar isso sobre qualquer banda mas, de alguma forma, baseada no que vi ao longo das décadas, a conexão com o Rush é algo especial, algo único. Muitas vezes baseada em gratidão: apreço pela forma como as canções falam aos fãs de modo pessoal, de como a música mudou suas vidas para melhor, de como as letras haviam expressado com eloquência suas próprias emoções. Os fãs entendem que provavelmente nunca passarão um tempo com Geddy, Alex ou Neil; e ainda assim esses caras os sentem como amigos de confiança. Eles não são roqueiros típicos - se importam com filantropia, com a ética e com suas habilidades como músicos. Nunca tiveram um grande hit no Top 40, nem estiveram dispostos a comprometer sua arte para conseguirem um. Ainda assim ganharam o respeito dos seus colegas na indústria da música (incluindo outros músicos), como ganharam o respeito de fãs do mundo todo.

Dessa forma, enquanto não posso prever o futuro, posso dizer que acredito que ainda veremos o Rush tocando ao vivo novamente. Duvido que aconteça qualquer turnê prolongada, mas talvez algumas pequenas ou até, como Geddy sugeriu, uma série de apresentações em uma cidade. Mais cedo ou mais tarde haverá oportunidades para criar novas músicas ou fazer algumas aparições. Não será como nos últimos quarenta anos; mas isso não é necessariamente algo ruim. Sei, por experiência em primeira mão, que tudo muda: em minha própria vida, precisei deixar o rádio e me reinventar como professora universitária. Os caras do Rush estão agora no começo dos seus sessenta anos, e eles também farão algumas mudanças. Fico pensando na letra de uma canção que não é do Rush - um hit do Top 40 de 1998 do Semisonic chamado "Closing Time", que traz uma frase que sempre me pareceu muito astuta: "Todo novo começo vem do fim de algum outro começo". E assim nos encontramos no final de um ciclo. Mas, ao invés de lamentar o que perdemos, sugiro ficarmos ansiosos pelo que ainda está por vir. Apenas Geddy, Alex e Neil sabem como será. Eu confio neles para fazerem a coisa certa para si próprios, para suas famílias e para os fãs.

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