A VIDA DE GEDDY LEE ALÉM DO RUSH



27 DE JANEIRO DE 2016 | POR VAGNER CRUZ

A revista Prog publicou recentemente em seu site uma nova entrevista com Geddy Lee, na qual o músico fala sobre sua voz no Rush, sobre seus pais como sobreviventes do Holocausto, suas primeiras influências artísticas, a amizade com os criadores do desenho animado South Park, seu amor pelos vinhos e sua vida além da banda. Acompanhe a matéria inteiramente traduzida.

PENSANDO ALTO - GEDDY LEE
O frontman do Rush fala sobre sua voz, South Park e vinhos

Prog Magazine - 19 de Janeiro de 2016
Por Matt Stocks | Tradução: Vagner Cruz

Nascido em Willowdale (Toronto) em 1953, Gary Lee Weinrib é mais conhecido como Geddy Lee, frontman do Rush.

Desde a primeira formação em 1968, foram concedidos ao trio 24 discos de ouro, 14 de platina e três multi-platina. Seu último álbum de estúdio, Clockwork Angels, venceu na categoria Álbum do Ano no Progressive Music Awards de 2012. Já foram indicados a sete Grammy Awards, chegando ao Rock and Roll Hall of Fame em 2013.

Eis os pensamentos de Geddy sobre sua jornada até agora...

"Meus pais se conheceram num campo de trabalho nazista durante a guerra. Ambos eram poloneses, nasceram a 45 minutos um do outro geograficamente. Tinham entre 12 e 13 anos de idade quando a guerra estourou. No momento em que os alemães chegaram à Polônia, foram enviados para guetos, designados para campos de trabalho especificamente. Eles se conheceram enquanto seguiam para os campos, a fim de realizarem os trabalhos forçados impostos pelos alemães. Depois, ambos foram enviados a Auschwitz: ela ficou no lado das mulheres e ele no lado dos homens. Estavam apaixonados mas, quando chegaram a Auschwitz, foram separados. Meu pai fazia coisas como subornar guardas para que levasse sapatos para minha mãe.

"Depois de um tempo, minha mãe foi transferida para Bergen-Belsen [campo de concentração nazista no norte da Alemanha] e meu pai para Dachau [campo de concentração nazista em Munique], perdendo o contato até o fim da guerra. Porém, depois da mesma, ele a encontrou em Belsen com vida, e se casaram lá mesmo. Nessa altura, o local passava de um campo de concentração para o que chamam de 'campos de desabrigados'. Depois da libertação, minha mãe e meu pai foram transferidos para os alojamentos dos oficiais alemães. O campo de concentração foi totalmente queimado, numa atitude muito controversa dos soldados ingleses - eles disseram que era por causa do tifo, mas acho que queriam se livrar daquilo politicamente. De qualquer forma, eles conseguiram o status de imigração para seguirem para a América do Norte, e acabaram em Toronto pois meu pai já tinha uma irmã que morava lá".

"Minha mãe sempre foi muito aberta ao falar sobre a guerra comigo. Crescemos ouvindo muitas das histórias da guerra em nossa casa, e era algo normal para nós. Soa estranho, eu sei - algo que acaba plantando uma semente escura em sua persona, mas sou grato por ela tenha compartilhado essas coisas. Valorizo de verdade o que passou, e de como todos nós temos sorte de estarmos aqui".

"Perder meu pai foi muito traumático - especialmente para minha mãe, pois ela o adorava. Para ser honesto, ela nunca superou. Sua morte trouxe muito estresse para nossa casa, pois minha mãe precisou trabalhar todos os dias e minha avó teve que cuidar de nós. Também estávamos chegando no período da rebeldia adolescente, e não havia ninguém por perto de fato para nos manter unidos. Minha irmã ficava cada vez mais selvagem, e eu me interessava por outras coisas além da escola. Comecei a me interessar por música e por tocar numa banda de rock. Foi aí que conheci esse cara louco chamado Alex Lifeson, uma péssima influência para mim - foi o primeiro cara com o qual fumei maconha. Assim, nossa família estava em pedaços, e tudo isso foi muito estressante para minha mãe. Mas ela é uma sobrevivente e tem um espírito forte. E conhecer Alex, obviamente, nos levou a formar o Rush. Portanto, não foi de todo ruim".

"A indústria da música é muito diferente nos dias de hoje. Voltando nos dias em que você assinava vários álbuns com as gravadoras, elas entendiam que poderia levar três discos para você estourar. Estavam dispostas a investir numa banda pois, se a mesma estourasse, teriam vendas enormes de discos. Hoje em dia os discos não vendem - a menos que você seja a Adele - sendo difícil para as gravadoras terem recursos para financiar inúmeras bandas. Sendo assim, agora você tem que fazer a porra toda sozinho, levando o trabalho todo finalizado para as gravadoras para que possam vender. Você meio que tem que se desenvolver - ou até mesmo ter um gerenciamento que te ajude a se desenvolver antes de se apresentar para o mundo. Nos velhos tempos, era muito mais do que uma parceria".

"O Cream foi a primeira banda que me deixou louco. Eu gostava do John Mayall & The Bluesbreakers naquela época também, mas, inicialmente, foram os Yardbirds, o The Who e o Cream que me deixaram louco por música. Implorei à minha mãe para que comprasse o violão que meu vizinho estava vendendo e, uma vez que coloquei minhas mãos nele, descobri que eu era muito bom em tirar músicas de ouvido. Foi um tipo de despertar para mim, pois finalmente encontrava algo no qual era bom. Assim, comecei a tocar músicas de outras pessoas, logo após sentir que poderia fazer isso sozinho".

"Os anos 70 foram muito emocionantes e divertidos para o Rush. Éramos muito novos e inexperientes para tudo aquilo - bastante ingênuos na verdade. Nossos dois primeiros shows foram como banda de abertura para o Uriah Heep e para o Manfred Mann's Earth Band. Eles tinham muitos seguidores fanáticos, e enlouquecíamos com os acontecimentos que víamos. Tocamos os shows finais daquela turnê com eles, e no último eles jogaram tortas um na cara do outro - algo que eu achava que era normal no encerramento de uma turnê. Havíamos acabado de começar, e achávamos tudo aquilo uma grande loucura. Em seguida, fomos para duas longas turnês com o Kiss - que nos trataram muito bem - e essa foi nossa incrível apresentação ao mundo do rock and roll".

"A mudança do Rush como banda de abertura para a atração principal foi acontecendo ao longo dos anos. Quando 2112 saiu em 1976, começamos como atração principal em pequenos locais aqui e ali - principalmente no Canadá. Porém, ainda abrimos shows até 1977. Após fazermos A Farewell to Kings [1977] e Hemispheres [1978], cimentamos o fato de que éramos headliners de locais pequenos. Ao liberarmos Moving Pictures, houve uma mudança enorme, além de um enorme acolhimento de outro grande número de fãs. Conseguimos seguir em frente por isso ter acontecido lentamente. O sucesso desse álbum nos permitiu sairmos das dívidas, gastando mais dinheiro para os nossos shows. Era dessa forma que olhávamos para tudo isso".

"Trey Parker e Matt Stone mudaram o poder da animação, que pode ser usada não somente para entreter, mas também para ridicularizar. Eles fazem a política ser interessante para os mais jovens e, num país tão grande e diversificado como os Estados Unidos, têm sido um canal importante para os jovens. Igualmente nas oportunidades de ridicularizar, não se atendo apenas à direita ou à esquerda - qualquer hipocrisia é um jogo justo para esses caras. Neil conheceu Matt e Trey primeiro, tornando-se amigo de Matt quando se mudou para Los Angeles. Ele nos apresentou a eles - Matt, em particular, é um cara incrível, bem como um grande fã do Rush. Dessa forma, houve um tipo de apreciação mútua. Quando estavam fazendo o filme South Park, que teve a canção "Blame Canada", eles queriam que fizéssemos o hino canadense. Dessa forma, ligaram para nós e conversamos sobre o assunto. Nós fizemos e enviamos, e nos tornamos amigos desde então".

"O Rush é, definitivamente, uma banda polarizadora. Acho que, parcialmente, é devido à minha voz - que é bastante aguda e incomum. As pessoas devem se aprofundar ou não conseguirão compreendê-la - o tipo de música que fazemos é complicada e pode ser bastante chocante, em termos de mudanças de compasso e por sua natureza agressiva. Portanto, não é de fácil digestão e você tem que ter vontade de investir tempo e energia para tentar compreendê-la. Se não tem essa disposição, não irá se aprofundar na mesma".

"Adoro vinhos. Não invisto em adegas e não levo a sério a ideia de produzir meu próprio vinho - é apenas um hobby e uma busca prazerosa. Sou louco por um Borgonha - principalmente o tinto - mas gosto também do Borgonha branco, dos vinhos do norte da Itália e os brancos da Áustria e da Alemanha. Porém, meu favorito é o Borgonha. Gosto de hobbies que me levam a certos locais nos quais estou interessado, como regiões vinícolas - muitas vezes acabo indo para as mesmas. Tem sido algo muito bom para mim e para minha família - visitamos muitas partes da França como resultado da minha curiosidade com o vinho dessas regiões. É um bom passatempo para se ter, mesmo que possa ser um pouco caro e esbanjador".

"É quase impossível pensar na minha vida fora do Rush. Grande parte do que vivi nos últimos 40 anos foi como um integrante do Rush. Fora da banda, tenho muito orgulho da minha família e dos meus filhos. Acho que fui um bom pai, pois sempre tentei estar presente em suas vidas mesmo quando estava na estrada. Sempre fiz tudo o que pude para manter meu casamento saudável, e isso é difícil quando se é um músico itinerante conforme fui por tantos anos. Porém, minha esposa e eu somos grandes viajantes e estamos sempre na estrada à procura de desafios para nossas vidas. Me envolvo com várias atividades diferentes, e gosto muito de angariar fundos para obras de caridade - tenho trabalhado bastante nessa área. Dessa forma, há inúmeras coisas que me mantém satisfeito fora da banda".

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